A segunda semana com o Toyota Prius — o primeiro híbrido a passar pelo crivo do nosso teste de 30 dias — foi exatamente como eu havia previsto: felizmente consegui sair de São Paulo e “despencar” Serra do Mar abaixo rumo a Ubatuba, viagem que é a prova dos nove dos aspectos rodoviários dos carros que testo para o AE.
Viajar com o inovador sedã made in Japan foi uma delícia, com diversos destaques positivos e praticamente nenhum negativo. E começo por eles, os pontos “menos bons” do Prius já que ponto negativo, de verdade, ainda não consegui achar nenhum.
Primeiro ponto a melhorar? Talvez a profundidade do porta-malas. Largo, comprido mas rasinho para quem, como eu, gosta de deixar as tralhas escondidas pela cobertura que, no caso do Prius, e do tipo “rolô”, de acionamento leve mas cujo encaixe exige paciência.
O problema deste tipo de cobertura é que ela exige cuidado, pois cargas pontiagudas podem estragá-la. O porta-malas ser meio raso é consequência direta da existência de um estepe de tamanho pleno e do posicionamento transversal de um volumoso abafador exatamente sob o assoalho. A opção pelo estepe temporário, que muitos não gostam, seria benéfica no caso do Prius.
Compensa (em parte) a pouca altura do porta-malas — que também se deve à forte inclinação do vidro traseiro – a existência de uma real 5ª porta, que permite o transporte de objetos volumosos e ultrapassar o topo do encosto do banco traseiro para transportá-los. Por conta disso seria ideal haver uma tela que pudesse ser erguida, separando a área de carga do habitáculo para impedir que, em uma eventual freada mais forte ou, pior, em uma colisão, coisas voassem para a cabine.
Ainda no quesito “poderia ser melhor e/ou diferente”, impossível não citar o freio de estacionamento a pedal, um tanto anacrônico em um carro tão moderno. Várias vezes, distraído, abri o capô deste Toyota, pois uma velha Ford Ranger que tive tinha este mesmo sistema de freio a pedal, que para ser destravado exigia puxar uma alavanquinha situada exatamente no lugar onde o Prius tem o comando que abre o capô.
Encerro estas pequenas críticas com as calotas que cobrem as rodas de liga. A razão da crítica não é estética mas funcional, pois elas são protuberantes e qualquer distração ao estacionar causará riscos no acessório, que segundo a Toyota existe para eliminar turbulências que prejudicariam a, aumentando o arrasto e consequentemente o consumo.
O Prius no quesito penetração aerodinâmica é um campeão, com Cx 0,24. É fácil perceber que as muito criticadas linhas do sedã híbrido foram ditadas pela busca pelo melhor formato para furar a resistência do ar. Capô baixo, para-brisa bem inclinado, quase que formando uma linha reta com o capô, teto com leve curvatura da metade para trás que encontra suavemente o vidro traseiro. A clássica forma de gota! E pelo que sei — e veremos na visita à Suspentécnica — a parte inferior do Prius é totalmente fechada por painéis destinados à favorecer a redução do arrasto aerodinâmico.
Veja esse breve vídeo sobre a evolução da aerodinâmica do Prius:
https://youtu.be/_ZOIXb1SK5E
Essas mesmas formas que não são unanimidade em termos estéticos oferecem uma experiência confortabilíssima quando alcancei os 120 km/h regulamentares no início da viagem à praia. O Prius praticamente não tem ruídos aerodinâmicos e a parceria entre o motor convencional e o elétrico é impecável inclusive no quesito ruído. Para ouvir o motor a combustão agir exige acelerar a fundo coisa que, definitivamente, não combina com este carro.
O paralelo que faço para justificar esta afirmação é o seguinte: alguns carros ou motos pedem para serem acelerados sempre que possível por conta do inebriante som que sai pelos canos de descarga. Já no Toyota o que acontece é o exato oposto, e tudo conspira a favor da busca do melhor aproveitamento energético.
Ainda apanhando dos comandos da central multimídia (outro aspecto a melhorar), as muitas opções de visualização dos dados do computador de bordo são uma verdadeira diversão para viciados em dados dinâmicos. A cada vez que a partida é dada os dados da viagem em curso podem ser exibidos avisando consumo de combustível (em litros por 100 km e não em km/l, como estamos mais habituados) e o percentual de uso de energia elétrica no percurso.
É possível também selecionar um gráfico que pode ser exibido tanto no painel como também no HUD, o head-up display, que projeta dados no para-brisa bem à frente dos olhos do motorista. Com o tempo ao volante me percebi “viciado” em tentar manter a barrinha digital que se move conforme o acelerador é pressionado, dentro dos limites “Eco”. E com isso a tocada do Prius vira uma atávica (mas divertida) busca pela maior eficiência energética…
Em números tal a brincadeira resultou na marca de 17,5 km/l na ida, serra abaixo, e 16,9 km/l na volta, batendo assim o recorde do trecho marcado pelo Citroën C3, que com o parco motor 1,2-l PureTech fez respectivamente 17,2 e 15,1 km/l. Detalhe: o Citroën pesa 1,1 tonelada em ordem de marcha, o Prius 1,4 tonelada. O francês tem câmbio manual, o japonês, CVT.
Silencioso, suave e capaz de quando necessário realizar ultrapassagens seguras se o acelerador for levado a fundo, o Prius nesta condição rodoviária — na qual suas qualidades de economia não são exatamente favorecidas — me conquistou assim como as outras três pessoas a bordo, que exaltaram não apenas o mencionado silêncio como também a maciez das suspensões, a boa conformação dos bancos, a competência do ar-condicionado e, por fim, a excelente qualidade do sistema de áudio, cuja assinatura JBL dispensa apresentações.
Chegando ao destino, a estrada esburacada destacou a capacidade de absorção das suspensões e a ausência de ruídos na carroceria e acabamentos internos, o que confirma a qualidade da moderna estrutura monobloco, batizada de YNGA (Toyota New Global Architecture), cuja excelente rigidez favorece o comportamento dinâmico sem exigir das suspensões um ajuste excessivamente firme para proporcionar boa estabilidade.
Na volta, subindo a rodovia dos Tamoios e suas amplas curvas entremeadas por cotovelos mais apertados, houve chance de perceber que mesmo não sendo a praia deste Prius a esportividade, o comportamento do sedã é preciso, neutro, e que mesmo usando pneus relativamente estreitos (195/65R15, Yokohama Aspec), o apoio em curvas mais “animadas” me pareceu seguro e previsível, avisando quando o limite se aproxima.
Realizado à noite o percurso da volta valorizou a boa iluminação oferecida pelos faróis de LED, enquanto a projeção da velocidade no para-brisa, regulado ao nível mínimo de intensidade, facilitou muito manter as velocidades múltiplas e variáveis de maneira maldosa exigidas nas rodovias nacionais.
Ao cabo da semana o destaque vai não apenas para a economia de combustível, algo óbvio, mas pleno de significado, como também a impecável gestão do módulo de controle, pois não se ouve se nem se percebe quando é um ou outro motor sendo usado de modo prevalecente.
Para a próxima semana valerá usar o híbrido na encrenca urbana: as voltas às aulas já ocorreu e rodar em São Paulo de carro é algo que faço apenas pelo amor à arte. E… nada mais.
RA
Leia o relatório anterior: 1ª semana
TOYOTA PRIUS
Dias: 7
Quilometragem total: 629 km
Distância na cidade: 174 km (28%)
Distância na estrada: 455 km (72%)
Consumo médio: 16,7 km/l
Melhor média: 20,1 km/l
Pior média: 15,6 km/l
Tempo ao volante: 18h07′
Média horária: 34,7 km/h
Tempo de uso em EV: 30%
FICHA TÉCNICA TOYOTA PRIUS | |
MOTOR A COMBUSTÃO | |
Denominação | 2ZR-FXE |
Tipo | 4 cilindros em linha, dianteiro transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, 4 válvulas por cilindro, ciclo Atkinson, gasolina |
Instalação | Dianteiro, transversal |
Diâmetro x curso (mm) | 80,5 x 88,3 |
Cilindrada (cm³) | 1.798 |
Aspiração | Natural |
Taxa de compressão (:1) | 13 |
Potência (cv/rpm) | 98/5.200 |
Torque (m·kgf/rpm) | 14,2/3.600 |
Formação de mistura | Injeção multiponto |
MOTOR ELÉTRICO | |
Tipo | Síncrono de ímã permanente |
Potência (cv) | 72 |
Torque (m·kgf) | 16,6 |
Potência máxima combinada (cv) | 123 |
Bateria | Níquel-hidreto metálico (NiMH), 28 módulos |
Tensão máxima (V) | 201,6 |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Câmbio | Automático CVT |
Relações extremas (:1) | n.d |
Relação de diferencial (:1) | 2,834 |
FREIOS | |
De serviço | ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças de frenagem, assistência a frenagem |
Dianteiro (Ø mm) | Disco ventilado/225 |
Traseiro (Ø mm) | Disco/259 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | McPherson, mola helicoidal, amortecedores pressurizados e barra estabilizadora |
Traseira | Multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 6,5Jx15 |
Pneus | 195/65R15 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.400 |
Carga útil | 380 |
Peso bruto total | 1.780 |
CARROCERIA | |
Tipo | Sedã, monobloco em aço e alumínio, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.540 |
Largura sem/com espelhos | 1.760/n.d. |
Altura | 1.490 |
Distância entre eixos | 2.700 |
Bitola dianteira/traseira | 1.530/1.545 |
Altura do solo | 136 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,24 |
Área frontal calculada (m²) | 2,23 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,535 |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 412 (697 com banco rebatido) |
Tanque de combustível | 43 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h) | 165 |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 11 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBEV) | |
Cidade (km/l) | 18,9 |
Estrada (km/l) | 17 |
PREÇO (R$) | 126.600 |