Devo iniciar este artigo agradecendo as observações dos leitores sobre o meu último, “A batalha do trânsito”, as quais passo a analisar.
Devo destacar três linhas de ação dos leitores, culpando a falta de educação dos motoristas e do povo em geral. Neste quesito apresentaram um lema notável: “Educar a criança para não ter que punir o adulto”.
A segunda foi apontar a deficiência do policiamento, no que estou plenamente de acordo, uma vez que é de minha autoria a definição “Trânsito equacionado é uma engenharia inteligente vigiada por um policiamento eficaz”.
Finalmente, uma ínfima minoria descrente num trânsito eficiente em curto prazo.
Vamos comentá-las.
A educação só é aplicável às crianças, para tanto estou negociando com as prefeituras de Niterói e de São Paulo a venda de meu último livro, ainda inédito, “Trânsito para crianças”. Extremamente didático e inteligentemente ilustrado, a exemplo do que se faz na Inglaterra. Ele é capaz de habilitar ao administrador de organizar e, para tal me comprometo, sem ônus, a ajudar a treiná-las, as PES, “Patrulhas Escolares de Segurança”, para, compostas por crianças policiarem as entradas e saídas nas escolas municipais, as quais elas pertencem, que grande sucesso alcançaram no Estado da Guanabara no final da década de 1960.
Após habilitado, o motorista, todos nós, somos primatas condicionados, segundo o psicólogo britânico Desmond Morris, em seu livro clássico. “O macaco nu”.
Segundo a “bíblia do trânsito” a publicação americana “Traffic Engineering Handbook”, quando trata do motorista, explica que as suas reações, quando ao volante, são regidas pelo principio do PIEV, iniciais de Percepção, Inteligência, Emoção e Volição, que irão condicioná-lo, através da sinalização nos seus três aspectos: gráfica horizontal, gráfica vertical e semafórica.
Infelizmente, por ignorância ou economia, a nossa sinalização urbana, pelo menos aqui no Rio, onde resido, deixa muito a desejar. Baniram, por economia, a sinalização gráfica horizontal refletorizada, desde a minha gestão no século passado. Isto é inaceitável, ao menos nas vias expressas.
Henry Barnes, lendário “Comissioner of Traffic” da cidade de Nova York durante oito anos, cansou de nos alertar que “trânsito é povo em movimento”. Então, devemos focar toda a nossa política de condicionamento no homem, a pé ou ao volante. O mau condicionamento na área urbana levará ao acidente nas rodovias, onde o fator, sempre presente nos acidentes, a velocidade, tem uma tolerância maior. As estatísticas não me deixam mentir. Acrescente-se ainda às imperfeições do nosso Código de Trânsito, neste quesito, sob a visão omissa de Brasília.
O segundo enfoque, a ineficácia do policiamento, em linguagem bíblica, ”Clamam aos céus e pedem justiça”. Aqui no Rio, por exemplo, retiraram a Polícia Militar do policiamento do trânsito, substituindo o profissional pelo amador, de firma terceirizada e/ou Guarda Municipal (foto de abertura).
A culpa não é apenas dos políticos neófitos no assunto que nos governam. Não, a culpa é dos pouco entendidos que reformaram o Código de Trânsito, transformando a organização americana de administração, onde todo controle de trânsito se concentrava nos Detrans, corretamente, adotando o sistema europeu de delegarem ao município o exercício do emprego da engenharia. Esqueceram, ou não souberam copiar, talvez porque na comissão que o reformou havia muito advogado e pouco engenheiro especializado, de que lá na Europa criaram o diretor de Engenharia e o diretor de Circulação, este último exclusividade do policiamento especializado. Que eu saiba, até hoje não faz parte do currículo de ensino do engenheiro de tráfego o ensinamento da sua operação.
Sir Alker Tripp, lendário diretor de Trânsito de Londres na década de 1930, desde aquela época já alertava para este importante detalhe.
Acrescente-se ainda o sistema de fiscalização ultrapassado, estático, mal equipado, para não falar do “crime” de colocar a Policia Federal de Tráfego no Mistério da Justiça, privando-a do seu convívio, importante e salutar, com a engenharia, em outro Ministério. Como exemplo de nosso atraso em termos de policiamento, ao invés de ser motivo de orgulho para mim, haver introduzido o uso do helicóptero na fiscalização, em 1967, para o Brasil é motivo de vergonha.
Quanto ao que concerne á minoria que não acredita em solução, em curto prazo, para os problemas que nos colocam muito mal na classificação mundial de segurança no trânsito, enquanto existir o sentimento nos governantes em praticarem o que denunciei, em 1967: “Infelizmente é muito difícil se organizar o trânsito com a politicagem. Desgraçadamente, é muito fácil fazer politicagem com o trânsito”. Estou de pleno acordo com os céticos que assim pensam.
CF