A semana número 3 do Corolla Altis Hybrid ocorreu como planejado, ou seja, ênfase total no uso urbano e a volta do álcool ao tanque. Rodei quase 400 quilômetros “picados”, percursos curtinhos na cidade de São Paulo, ora encarando congestionamentos, ora circulando fora dos horários de pico.
Sobre a volta do álcool, queria usar tal combustível para fazer uma contraprova: segundo a Toyota, o carro me foi entregue (de tanque cheio) abastecido com álcool. Porém, sendo um carro de frota de imprensa, vai saber como abasteceu o colega que testou o carro antes de mim? Por isso fiz questão de praticamente secar o tanque e voltar ao derivado da cana-de-açúcar puro depois do tanque de gasolina consumido na segunda semana de teste.
Ser “flex” é a grande primazia deste motor de 1,8 litro importado do Japão. De fato, motor e câmbio chegam prontinhos da terra do Sol Nascente para serem montados nos Corolla Hybrid na fábrica de Indaiatuba, interior paulista. A Toyota trabalhou duro para deixar esta unidade motriz dentro de um padrão elevado, no qual a preocupação maior — além do bom funcionamento — visou o cuidado com superfícies e materiais que entram em contato com o álcool, combustível sabidamente mais corrosivo que a gasolina. Nada de novo sob o sol: desde os primeiros carros a álcool na década de 1980 que o discurso é este — a proteção contra corrosão —, mas certamente a tecnologia “voou” neste grande espaço de tempo.
A Toyota é uma marca que prima pela confiabilidade de seus modelos, mas é claro que os 8 mil km rodados deste Altis Hybrid do Teste de 30 Dias não são suficientes para gerar problemas de nenhuma ordem por conta do uso do álcool, e assim cabe apenas relatar impressões de funcionamento usando o combustível “verde”.
Muda algo na passagem da gasolina para o álcool? Sinceramente, nada, ou quase: na ficha técnica consta que há um incremento de 3 cv na potência máxima do motor a combustão quando o álcool é usado, passando de 98 cv a 5.200 rpm para 101 cv à mesma rotação. Ínfima diferença, ainda mais mascarada pelas razões que expliquei no texto referente à segunda semana, dizendo que o Corolla Hybrid induz o motorista a uma tocada calma, sem exageros no acelerador, padrão no qual dificilmente estes três cavalinhos a mais podem ser percebidos.
O que de fato notei — ou tive a impressão de notar — é que de manhã, ao ligar o carro na garagem depois de uma noite inteirinha desligado, o motor a combustão quase sempre entrava em funcionamento para carregar a bateria quando é etanol que está no tanque. Usando gasolina, em algumas manhãs apenas o elétrico entrava em cena. Porém, isso pode ser algo relativo ao padrão de uso precedente, não ao combustível, ou seja, se ao estacionar na noite anterior a bateria estivesse com carga total ou quase.
Importante mesmo é contar para você que, seja com álcool ou gasolina, o Corolla Hybrid segue sendo um tremendo carro. Quando o motor a combustão liga (coisa que acontece independentemente da vontade de quem dirige) aparece uma leve vibração no assoalho e pedaleira, leve mesmo, e através dos gráficos (tem no painel e na tela do sistema multimídia) quem dirige fica sabendo o que está acontecendo, se apenas recarga da bateria ou se também tração. Na prática, o que confirmei é que rodando na porção de São Paulo na qual resido, plena de sobes e desces, a parceria entre o quatro em linha de 1,8 litro e o motor elétrico é impecável: são como irmãos fraternos, um ajudando ao outro conforme a situação.
Ladeirão? Combustão! Rua plana ou descida? Elétrico! E tudo isso com um conforto de marcha de altíssimo nível, sempre colocado à dura prova pelo desastre completo que é a pavimentação paulistana. De vidros fechados, ar ligado, o que mais se ouve é a rolagem dos pneus no solo, não por que sejam de um tipo rumoroso, mas sim pelo fato de que o silêncio na cabine é referência. Em vias expressas, em velocidades entre 70 e 90 km/h, tal silêncio persiste, fazendo deste Corolla híbrido um dos carros mais confortáveis que passou pelas minhas mãos do ponto de vista acústico, mas não só.
A conformação dos bancos é excelente. O do motorista, com ajustes elétricos, exato para meu esqueleto. Andei no banco de trás e considerei o padrão de conforto ótimo, e a única ressalva a fazer é relativa aos apoios de cabeça, fixos para os passageiros que ocupam as janelas, ressalva esta não de ordem prática mas estética: simplesmente preferiria ver todos os apoios de cabeça ajustáveis como é o central.
Falando do banco traseiro, necessário comentar que mesmo sendo um sedã o Corolla permite o rebatimento do encosto do banco traseiro na razão 30:70, algo ótimo para a eventual necessidade de transportar objetos longos. E, sim, a o descansa-braço central com suporte de copos… Executivos estão entre os clientes preferenciais deste sedã, ou não?
Quanto ao porta-malas, apesar de não ter tido a oportunidade de fazer minha clássica viagem com carro lotado de gente e bagagem, os 470 litros não devem deixar nenhum dono de Corolla chateado, pelo contrário. Idem com respeito à qualidade do revestimento do compartimento, no qual o estepe (de uso temporário) está sob o assoalho e não sob a carroceria.
A escolha de pneus de perfil 45 para um sedã tranquilo pode ser considerada uma mera concessão estética tendo em vista não serem exatamente o tipo de pneu mais confortável e, infelizmente, são mais sujeitos a danos no flanco por conta da pequena distância entre roda e piso. Porém, em uma noite chuvosa cai em uma cratera com a roda dianteira direita, um impacto violento que me deu a imediata certeza de ter danificado não apenas pneu como também a roda e, talvez, até a suspensão. Prossegui, prestando atenção e… nada! Volante alinhado, sem puxar. Ao chegar à garagem, conferi que felizmente não ocorreu nenhum dano (ao menos visível) no conjunto roda-pneu. Ponto para os Dunlop made in Brazil. Outro aspecto relativo ao uso urbano diz respeito à altura livre em relação ao solo: a frente e a traseira não entram em contato com o piso com grande facilidade, mas exigem certo cuidado para que isso não ocorra.
De acordo com o computador de bordo, que a cada vez que o carro é ligado dá início a uma medição de consumo, a pior marca obtida foi de 8,9 km/l, uma cifra que julgo boa para as condições de utilização específicas. Creio que qualquer sedã do porte do Corolla não faria melhor do que 5 km/l em percurso igual. Já a melhor marca foi de 18,7 km/l, realizada em trecho tremendamente congestionado, percurso feito em cerca de 20 minutos quando o trânsito está livre que acabou levando mais de uma hora. E é esse o ponto alto do Altis Hybrid, o “quanto pior, melhor”: no trânsito travado o motor elétrico é o rei. Basicamente, é só ele que movimenta o carro com o motor a combustão entrando em cena apenas para carregar a bateria.
Aspectos especificamente relativos ao uso urbano também colocam este Corolla em destaque: a direção eletroassistida, a visibilidade oferecida pelos retrovisores, os dispositivos de auxílio a manobras (câmera de ré com guias) e até mesmo o sistema de segurança pré-colisão, que “entende” situações de iminente colisão frontal emitindo sinal sonoro e aplicando pressão nos freios, que pode ser configurado em três níveis de intervenção e inclusive ser desabilitado.
O que mais? Mais tudo aquilo que você espera de um carro moderno e altamente tecnológico: iluminação full LED, regulagem de altura de faróis, comutação automática alto/baixo, controle de estabilidade, tração, assistente que segura o carro no freio nas partidas em ruas íngremes, e um volante com uma infinidade de botões para comandar sistema multimídia e muito mais. O que o Altis Hybrid não tem? Possibilidade de troca de marchas através de borboleta ou mesmo da alavanca, não tem freio de estacionamento eletromecânico e tampouco sensores de proximidade dianteiros ou traseiros para auxílio em manobra.
A quantidade de porta-objetos na cabine é razoável. Idem quanto a sistemas facilitadores da vida como rebatimento de espelhos retrovisores, chave presencial com tecla para abrir o porta-malas e botão liga/desliga no painel. Operar o sistema de climatização é intuitivo e o mesmo vale para a tela tátil plantada no meio do painel que, para mim, mereceria ser escamoteável. Acho pouco feliz, esteticamente falando, aquela “televisãozinha” da qual não é possível se livrar. Por outro lado, o espelhamento de aplicativos que uso com frequência como o Waze e o Spotify é imediato, bastando espetar o cabo em uma porta USB na parte baixa do painel.
Para a semana final, o de sempre: levar o Toyota Corolla Altis Hybrid à Suspentécnica e olhar atentamente suas entranhas com a parceria do colaborador Alberto Trivellato. Desconfio que vamos gostar do que veremos…
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Toyota Corolla Altis Hybrid premium flex
Dias: 21
Quilometragem total: 1.261 km
Distância na cidade: 870 km (69%)
Distância na estrada: 391 km (31%)
Consumo médio: 12,4 km/l
Melhor média (álcool): 18,7 km/l
Pior média (álcool): 8,9 km/l
Melhor média (gasolina): 22,4 km/l
Pior média (gasolina): 12,1 km/l
FICHA TÉCNICA TOYOTA COROLLA HYBRID 2020 | |
MOTOR A COMBUSTÃO | |
Designação | 2ZR-FXB |
Descrição | Dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, injeção no duto, duplo comando de válvulas acionado por corrente, variador de fase na admissão inteligente, 4 válvulas por cilindro, ciclo Atkinson, flex |
Diâmetro x curso (mm) | 80,5 x 88,3 |
Cilindrada (cm³) | 1.798 |
Taxa de compressão (:1) | 14 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 98/101/5.200 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 14,5/3.600 |
MOTORES ELÉTRICOS | |
Tipo | Corrente alternada, síncrono, MG1 e MG2 |
Potência máxima (cv) | 72 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 16,6 |
Potência máxima combinada(cv) | 122 |
Torque máximo combinado (m·kgf/rpm) | n.d |
BATERIA DE TRAÇÃO | |
Tipo | Níquel hidreto metálico |
Tensão (V) | 201,6 |
Capacidade (kW·h) | 1,31 |
TRANSMISSÃO | |
Conexão motor-câmbio | Conversor de torque |
Câmbio | Transeixo híbrido, modos Normal, Eco, Power e EV, tração dianteira |
Relações das marchas máx. e mín. (:1) | n.d. |
Relações de diferencial (:1) | n.d. |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Independente, multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida, indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11,6 |
Relação de direção média (:1) | n.d. |
N° de voltas entre batentes | 2,8 |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 370 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal |
Assistência | A vácuo por bomba |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/nd. |
Traseiros (Ø mm) | Disco/n.d. |
Controle | ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças de frenagem e assistência à frenagem |
De estacionamento | Mecânico por alavanca, ação nas rodas traseiras |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio 6,5Jx17 |
Pneus | 225/45R17W (Dunlop SP Maxx) |
Estepe | 205/55R16H (temporário, 80 km/h) |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.440 (Premium 1.445) |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, sedã, 4-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro e traseiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,28 |
Área frontal calculada (m²) | 2,07 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,579 |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.630 |
Largura sem/com espelhos | 1.780/2.079 |
Altura | 1.455 |
Distância entre eixos | 2.700 |
Bitola dianteira/traseira | n.d/n.d |
Distância mínima do solo | 148 |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 470 (com encostos rebatidos n.d) |
Tanque de combustível | 43 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 11,3 |
Velocidade máxima (km/h) | 180 |
Velocidade em modo EV (km/h) | Até 50 |
CONSUMO INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 16,3/10,9 |
Estrada (km/l, G/A) | 14,5/9,9 |
GARANTIA | |
Garantia (anos) | Cinco |
Garantia do sistema híbrido, inclusive bateria (anos) | Oito |