Ontem celebrou-se o Natal, cuja mensagem principal é reproduzida, em parte,no título deste artigo. Nada mais importante do que a paz na terra aos homens de boa vontade.
Neste espaço dedicado aos fatos relativos ao trânsito, esta paz chega a ser utópica. Aproveito a oportunidade, em face da data, para lhes confessar que busco esse desiderato há mais de meio século, quer no exercício da gerência do trânsito e, principalmente, quer nos meus escritos, incluindo os livros, sobre o assunto que escrevi. Tive, inclusive a honra de ter um deles, intitulado “Trânsito, como eu o entendo” incluído na lista das publicações da Road Makers Library, de Londres.
Não seria apropriado, face à proximidade da data máxima da Cristandade escrever sobre os inúmeros acidentes de trânsito ocorridos ultimamente, em que a mídia ao noticiá-los apenas enuncia o “status” legal dos veículos envolvidos, sem nada mais comentar, principalmente as falhas do local dos acidentes no que concerne a segurança viária.
Exemplificando, num grave acidente na BR-381 próximo a João Monlevade, MG, dia 4 último,no qual um ônibus despencou de uma ponte rodoviária (foto de abertura) após sobre ela deter a marcha por problema mecânico e recuar lentamente de ré com as rodas esterçadas, vindo a encostar na mureta e esta ser insuficiente para segurar o coletivo, deixando 11 mortos e 29 feridos — número de vítimas comparável ao de um acidente aeronáutico — só aconteceu porque esta ponte não era dotada, em suas margens, de eficientes guard-rails, de preferência do modelo box beam, que é todo de aço, em seu lugar uma frágil mureta com a espessura de um tijolo apenas, material com que fora construída.
Desde o inicio de meu aprendizado, em 1968, junto à excepcional polícia de tráfego de Haia, na Holanda, quando lá residi por dois anos. foi-me recomendado a leitura do livro “Road Traffic Control” (Controle de Tráfego Rodoviário), de autoria de Sir Alker Tripp lendário diretor de Trânsito de Londres na década de 1930, contendo o seu ensinamento básico para a formação da filosofia de ação: “No gerenciamento do trânsito, tudo que se possa obter através de medidas construtivas não deve ser imposto mediante restrições legais.”
Sempre procurei pautar as minhas ações ao lidar com o trânsito procurando sempre obedecer esta recomendação básica oriunda de um mestre imortalizado.
No entanto, sempre “preguei no deserto” ou para “ouvidos moucos”, inclusive recentemente, enviando ao deputado relator das emendas (ridículas em face das necessidades) ao atual vetusto Código de Trânsito Brasileiro. Mereci até criticas da “confraria da meia ciência” que, na minha avançadíssima idade, não me causam nenhuma mossa.
Mas na busca nestes tempos de marasmo fruto desta maldita pandemia, procurei na minha vasta biblioteca algo que me defendesse de cair em depressão, tendo escolhido o livro com o sugestivo e oportuno título “Um sentido para a vida”, de autoria do francês Antoine de Saint- Exupéry, abordando um tema que eu e todos os idosos precisamos conhecer.
Pois não é que foi onde surpreendentemente encontrei um apoio ao meu proceder, até com consolo à minha norma de vida profissional numa reportagem do autor, na URSS na década de 1930, quando mais ativa era a ditadura sanguinária de Josef Stálin. Disse-lhe o magistrado entrevistado que apesar do regime em que vivia, quanto à sua linha de ação, “Não é importante punir, mas sim corrigir.”
Até que enfim encontrei, e por acaso, uma opinião que me faz justiça, pois é de um juiz, nesta campanha inglória de mais de meio século que a minha teimosa tenacidade alimenta.
Significou, para mim, neste Natal triste um régio presente natalino que, espero, tenha sido também com a paz do dever cumprido para com os homens de boa vontade.
CF