A programação deu certo! Rodei quase 500 quilômetros com a Strada com caçamba carregada e três a bordo, percorrendo o clássico trajeto deste Teste de 30 Dias, que da metrópole São Paulo leva à litorânea Ubatuba.
Tal roteiro é a essência desta avaliação de longo termo do AE, onde as referências do batido caminho — frequento o lugar desde o começo dos anos 1970 — me dão confirmações sobre os carros testados. Sem rodeios, afirmo que a Strada Volcano CD me deixou bem feliz com seu desempenho.
Na variedade de rodovias que compõem esta viagem — Dutra (BR-116), Ayrton Senna/Carvalho Pinto (SP-70), Tamoios (SP-99), Manoel Hyppolito Rego (SP-55), Oswaldo Cruz (SP-125) — tem de tudo: do asfalto europeu das rodovias do planalto aos pisos litorâneos pontilhados de lombadas, remendos e com trechos fortemente degradados. Somado a isso, o trechinho off-road para chegar em casa e… Strada, gostei de você!
Especialmente no pavimento malvado, os já mencionados pneus Pirelli ATR Scorpion se mostram à vontade e deixam quem dirige tranquilo. A parceria deles com as suspensões é digna de nota, e mesmo com a caçamba lotada — calculo cerca de 300 kg — a Strada dinamicamente não mudou. A 120 km/h ou algo mais ela transmite segurança, e imagino que o assistente eletrônico de estabilidade não deve ter muito trabalho em situações de emergência. No off-road, ou no asfalto detonado pelas frequentes chuvas, em nenhum momento o desagradável fim de curso — quando a suspensão encosta no batente — se manifestou.
Como bem mostrou meu colega de AE Gerson Borini no teste “No Uso”, feito com esta mesmíssima Strada em agosto do ano passado, a suspensão traseira de eixo rígido com molas semielípticas parabólicas tem um generoso batente, fabricado com um elastômero de alta densidade batizado de Cellasto pela fornecedora (Basf). Sem carga, a extremidade inferior de tal batente fica a cerca 4~5 cm de onde se apoiará, na exata confluência entre a mola semielíptica e eixo rígido. Com a carga aplicada nesta viagem, o batente ficou encostado, mas isso não se demonstrou um limitador de atuação de suspensão traseira, mas um autêntico segundo estágio, já que tais batentes tem flexibilidade progressiva.
Encostado na mola mas permitindo seu trabalho, os batentes agem controlando oscilações como as causadas pela transposição de uma lombada, ajudando os amortecedores e contribuindo para o conforto. Estes “batentes espertos” não são nenhuma novidade, mas na Strada foram aplicados magistralmente.
A excelência na capacidade de absorver irregularidades e prover o carro de boa dirigibilidade é, repito, o ponto alto da Strada, que está ligeiramente aquém de seu outro ponto alto: o motor. O pequeno 1,3-litro Firefly merece palmas. Consome pouco e leva bem a Strada, especialmente em uso urbano. Na rodovia se encarrega de manter o ritmo decentemente, embora não haja reserva.
Apesar do Firefly gostar de girar lá no alto, levar o conta-giros às alturas não oferece uma progressão empolgante. Posso dizer que com meia carga, como nesta viagem, o desempenho da Strada Volcano CD é justinho. Se carregada no limite e com cinco a bordo, o motorista terá que calcular bem suas ultrapassagens e se valer do ótimo câmbio, cuja primeira é curta, padrão rebocador. Aliás, na cidade e sem carga, me habituei a sempre sair em 2ª marcha e logo passar à 4ª ou até mesmo a 5ª, que admite ser usada a meros 40 km/h, denunciando a elasticidade do quatro-em-linha made in Betim.
Falei cinco a bordo algumas linhas atrás? Confesso não ter constrangido ninguém a sofrer tal sevícia. No “eu atrás de mim”, eu sofreria cutucando as minhas próprias costas. Mas eu sou do tempo do aperto do Fusca e do Gordini, do Corcel e do Chevette, mas sei que as exigências atuais são outras em termos de espaço, e daí, em boa parte, vir o sucesso dos suves, e o evidente crescimento em comprimento, largura e altura de todos os carros. Bom exemplo é a própria antecessora da Strada, a Fiorino LX: pesava 178 kg menos, era meio metro mais curta, 17 cm mais estreita e 13 cm mais baixa comparando versão de cabine simples com sua equivalente.
Omelete sem quebrar ovo? Não existe, e por isso quem reclamar do espaço para pernas no banco traseiro deve rever seus conceitos, lembrar que a Strada é uma picape de porte pequeno, e que ser capaz de levar cinco, mesmo com conforto mínimo, é um grande feito. De uma utilidade excepcional.
Laura, de 18 anos, que viajou no banco de trás por mais de três horas, certamente acha que tudo o que disse acima é uma idiotice, (mal) acostumada que está a cruzar as pernas viajando nos bancos de trás, nem aí com relação à versatilidade que uma picapinha como a Strada CD oferece. Geração Z, fazer o quê?
Termino a reflexão sobre a habitabilidade da Strada CD dizendo que o ângulo de abertura das quatro portas impressiona positivamente, e que eu e minha senhora nos bancos dianteiros viajamos bem, em que pese um aspecto que me incomoda, já assinalado na 1ª semana, o claustrofóbico revestimento do teto preto, e um detalhe indicado pela acompanhante: o ventilador ruidoso já à partir da 2ª velocidade de quatro possíveis. Outro aspecto de comodidade é o sistema de áudio, que não é exatamente o máximo, mas que creio oferecer compensação através da facilidade com a qual o telefone celular é pareado automaticamente, sem exigir conexão via cabo, o que para “wazedependentes” é excelente.
Importante: caçamba não é porta-malas, e isso deve ser levado em consideração em viagens sob chuva ou em estradas de terra. Por mais bem ajustada que seja a capota marítima, a água se infiltra no compartimento, e a poeira, idem. Portanto, ou a bagagem vai dentro da cabine, ou precisa ser acondicionada em sacos ou caixas/malas plásticas resistentes à água.
Um tira-teima que achei conveniente realizar foi o de superar desníveis, usando ou não o E-Locker, não tanto por ter dúvidas sobre a eficiência do sistema, mas sim para aproveitar o terreno úmido e variado no entorno. E digo, sem medo de errar, que a capacidade desta última edição da picape Fiat em rodar por terrenos com desníveis acentuados e de baixa aderência é surpreendente. Mérito dos 21,4 cm de altura em relação ao solo e razoável ângulo de entrada de 24º, o que faz ser bem difícil o contato da extremidade do para-choque com o piso. Único e previsível senão detectado na sessão sobe-e-desce foi verificar que, em declives muito acentuados, o freio de estacionamento não segura a Strada se a frente estiver apontada para baixo. Mesmo com rodas traseiras travadas ela não parou em um ladeirão pavimentado com concreto, exigindo engatar a 1ª marcha para imobilizá-la. Defeito? Não, efeito direto da caçamba vazia e da distribuição de peso.
Econômica a Strada? Sim, é. Aquele fôlego que não sobra nas ultrapassagens é compensado na hora do reabastecimento. Na ida o recorde de consumo, 14,2 km/l no percurso serra abaixo, 13,7 km/l serra acima, com caçamba com cerca de metade do peso e encarando o percurso mais íngreme da exigente SP-125 Oswaldo Cruz, que leva do nível do mar aos 750 metros do planalto em apenas 7 km de percurso, o que corresponde a uma rampa média de 10,7%, o dobro da serra da Rodovia dos Imigrantes. Na chegada a São Paulo, após uma viagem na qual passei 12 horas e meia de volante, estou convencido que a Strada merece os elogios que vem recebendo nas avaliações desde seu lançamento, e as consequentes boas vendas. Ela entrega o que promete e tem detalhes técnicos e de conforto que surpreendem.
Para a semana de encerramento, a previsão é a tradicional visita à Suspentécnica para ouvir os comentários de nosso colaborador Alberto Trivellato, com consequente detalhamento de aspectos construtivos e técnicos.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Fiat Strada Volcano Cabine Dupla
Dias: 21
Quilometragem total: 1.370 km
Distância na cidade: 686 km (50%)
Distância na estrada: 684 km (50%)
Consumo médio: 11,1 km/l (74% gasolina/26% álcool)
Melhor média (álcool): 10,8 km/l
Pior média (álcool): 5,4 km/l
Melhor média (gasolina): 14,2 km/l
Pior média (gasolina): 8,7 km/l
Média horária: 32,0 km/h
Tempo ao volante: 42h09 minutos
FICHA TÉCNICA NOVA STRADA VOLCANO | |
MOTOR | |
Designação | Firefly 1,3 GSE Flex |
Descrição | 4-cil em linha, bloco e cabeçote de alumínio, comando no cabeçote com variador de fase, corrente, 2 válvulas por cilindro |
Cilindrada (cm³) | 1.332 |
Diâmetro e curso (mm) | 70 x 86,5 |
Taxa de compressão (:1) | 13,2 |
Potência (cv/rpm, G/E) | 101/6.000//109/6.250 |
Torque (m·kgf/rpm, G/E) | 13,7/14,2/3.500 |
Corte de rotação (rpm) | 6.400 |
Comprimento de biela (mm) | 149,3 |
Relação r/l | 0,289 |
Formação de mistura | Injeção no duto Magneti Marelli, ignição integrada ao módulo |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão (V) | 12 |
Gerador (tipo, A) | Alternador/110 |
Bateria (A·h) | 50 |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo Fiat com câmbio manual de 5 marchas mais ré, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,273; 2ª 2,429; 3ª 1,444; 4ª 1,029; 5ª 0,795; ré 4,200 |
Relação de diferencial (:1) | 4,600 |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo rígido, mola longitudinal parabólica e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida, indexada à velocidade |
Relação de direção (:1) | n.d |
Número de voltas entre batentes | 3 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
Disposição | Duplo circuito hidráulico em diagonal, servofreio a vácuo |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/257 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/228,6 |
Controle | ABS (obrigatório) e distrib. eletrônica das forças de frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio: 6Jx15 ET40 (opcional: 6Jx16 ET40) |
Pneus | 205/60R15 ATR (Opcional: 205/55R16) |
Estepe | Temporário, roda de aço, pneu estreito T125/80R16 |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, picape cabine dupla, quatro portas, cinco lugares, subchassi dianteiro |
CAPACIDADES (L) | |
Caçamba | 844 |
Tanque de combustível | 55 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.174 |
Carga útil | 650 |
Peso rebocável sem freio | 400 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.474 |
Largura sem/com espelhos | 1.732/1.967 |
Altura | 1.595 |
Distância entre eixos | 2.737 |
Distância mínima do solo | 214 |
Bitola dianteira/traseira | 1.457/1.480 |
Balanço dianteiro/traseiro | 826/917 |
ÂNGULOS E ALTURA LIVRE | |
Entrada (º, roda 15″/16″) | 23,2/23,4 |
Saída (º, roda 15″/16″) | 28,4/28,6 |
Rampa (º, roda 15″/16″ | 21,6/22 |
Altura livre do solo entre os eixos (mm, roda 15″/’16”) | 232/236 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 12,4/11,2 |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 165/168.4 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/E) | 12,1/8,4 |
Estrada (km/l, G/E) | 13,3/9,4 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 31,3 (roda 15″), 31,6 (roda 16″) |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.850 (roda 15″), 3.800 (roda 16″) |
Rotação à vel. máxima em 5ª (rpm) | 5.380 (roda 15″), 5.330 (roda 16″) |