Uma das coisas que mais gostei quando a Liberty Media assumiu as transmissões da Fórmula 1 é que as corridas ganharam mais espaço — e ainda mais quando mudaram de emissora e foram para a Band, neste ano.
Em vez de iniciar a transmissão na volta de apresentação e cortar praticamente logo depois da bandeirada, agora temos entrevistas, comentários e imagens dos treinos livres, o treino de classificação e bastante informação antes e depois da corrida.
Claro que acho que ainda podiam fazer mais. Por exemplo, gostaria de ter mais dados sobre o país e a cidade onde acontecem as corridas e mais bastidores — para usar uma palavrinha da qual estou tomando bronca de tão desgastada que está na boca dos “âncoras” de nossa televisão. Mas sabemos que há muitos ex-pilotos nos boxes e como comentaristas e gostaria de vê-los mais.
Em todo caso, fiz aqui uma pequena seleção de algumas comemorações nos pódios que me chamaram a atenção. Como sempre, a ordem é relativamente bagunçada, pois se de fato há alguma ordem de grandeza não fui muito precisa, pois haveria alguns empates. A lista também ficou um pouco extensa, por isso semana que vem tem mais. Então, vamos lá:
Champagne na sapatilha
Acredito que o australiano seja dos pilotos mais simpáticos e mais bem resolvidos do grid atual. Sempre bem humorado e sorridente, ele subiu ao pódio menos vezes do que eu gostaria. Se houvesse premiação apenas para manobras de ultrapassagem provavelmente ele seria um multicampeão. Mas essa história de beber a champagne usando a própria sapatilha deve ser das coisas mais originais que vi — vejam bem, caros leitores, originais. Em nenhum momento eu usei adjetivos como legal, bacana ou mesmo algo que eu faria. É o chamado ‘shoey’, que virou mania entre os esportistas australianos. É um nome bonito para algo não tão bonito assim que consiste em tomar champanhe usando o próprio sapato como copo. Ricciardo conquistou um terceiro lugar no grande prêmio da Emilia Romagna, em Imola, em 2020, vencido por Lewis Hamilton e com Valtteri Bottas em segundo. Naquele dia, Ricciardo conseguiu que Lewis Hamilton fizesse o “shoey”. Bottas observou de longe e dispensou a honraria. Aparentemente, esse costume começou com uns australianos do mundo do surfe. Mas, convenhamos, as sapatilhas deles estão dentro da água o tempo todo – ok, salgada, mas mesmo assim é bem corrente. Na F-1 o sujeito fica acelerando e freando durante mais de uma hora num calor considerável.
Comemoração com água em vez champagne
É claro que eu tenho uma queda por Kimi Räikkönen, mas esta comemoração para mim merece o prêmio de fofurice. É, disparada, a comemoração mais bacana de todas. No GP da Hungria de 2018, o finlandês (conhecido como “homem de gelo”) chegou em terceiro lugar com seu Ferrari. Como sói acontecer, os filhos e a esposa do piloto estavam presentes e Robin de então 3 aninhos, “comemorou” chacoalhando a própria garrafinha de água como se fosse uma garrafa de champagne. Impossível não se emocionar com a cena — nem o pai, que tanto economiza em sorrisos, se conteve. Pelo visto o menino herdou do pai a personalidade blasé mas, aparentemente, com mais bom humor. A imagem do piazinho no pódio com direito a “spray d´água” me fez lembrar dos anos 1970 quando os pilotos e suas famílias eram amigos entre si e cenas de familiares no paddock eram comuns.
https://twitter.com/skysportsf1/status/1023604158102953986
Piquet e a tacinha
Esta é mais pela ironia e surpresa, mas uma imagem que ninguém esqueceu. Ao vencer o GP da Alemanha de 1986, os prêmios surpreenderam. Depois de entregar as taças ao segundo e terceiro colocados, respectivamente, Senna e Mansell, foi a vez do vencedor, o irônico Piquet. O troféu era ridiculamente pequeno. Piquet ergueu a taça dele com as duas mãos, como se estivesse fazendo um grande esforço de musculação. Cá entre nós, o prêmio era pouco maior do que alguma das taças de vinho que eu tenho em casa…
Piquet e Senna segurando, juntos, a bandeira brasileira
Esta cena é das mais bonitas que tenho na minha memória, pelo simbolismo. No Grande Prêmio do Brasil, em 1986, ainda no circuito de Jacarepaguá, Piquet (primeiro colocado) e Senna (segundo), seguraram, juntos, a bandeira brasileira no pódio. Uma lindíssima imagem que ficou conhecida no mundo todo. Foi a primeira das oito dobradinhas dos dois pilotos na F-1. Ah, ninguém lembra, mas Jacques Lafitte foi o terceiro colocado naquela prova no Brasil.
Schumacher rege o hino italiano
Esta comemoração é polêmica, mas confesso que eu mesma não gostava muito. Durante algum tempo, Michael Schumacher gesticulou no pódio como se estivesse regendo o hino italiano, tocado cada vez que ele ganhava uma corrida com seu Ferrari — ou seja, um monte de vezes. Inicialmente, pareceu algo engraçadinho, mas os italianos não gostaram nem um pouco. O ex-presidente italiano e então senador Francesco Cossiga criticou duramente o piloto alemão no ano 2000, quando mais uma vez ele dirigiu a plateia na hora do hino ao vencer o GP do Japão. “Me irrita que um garoto que é pago com o dinheiro de nosso país se comporte como um soldado alemão ao ouvir o hino da Alemanha e faça papel de bobo, não pela primeira vez, quando o hino italiano é tocado”, disse. Pessoalmente acho que se ele tivesse feito isso com o hino do próprio país a reação não teria sido tão negativa, mas o fato é que ele logo parou de fazer essa “gracinha”.
É um avião? É um pássaro? Não, é o Superhomem
Esta vale a pena mais pela foto. No GP de Mônaco de 2006, os Red Bulls de David Coulthard e Christian Klien (sim, aquele que em outra ação promocional perdeu um diamante caríssimo, como já contei aqui) protagonizaram uma ação de marketing do filme “Superman — O Retorno”. O escocês Coulthard, terceiro colocado, prova vencida por Fernando Alonso com Juan Pablo Motoya em segundo, obteve o primeiro pódio da equipe na Fórmula 1 e comemorou vestindo a capa do Superman. Os mais atentos perceberão que ele foi dispensado de colocar aquela ridícula cueca por cima da parte inferior do macacão.
O pódio para ele só
Outra comemoração que vale pela foto. A Fórmula 1 chegou ao Japão em 1977 já com o campeão definido — Niki Lauda. Quem recebeu a bandeirada em primeiro lugar foi James Hunt, seguindo de Carlos Reutemann e, em terceiro lugar, Patrick Depailler. Porém, compromissos dos dois primeiros colocados (e provavelmente sem as benesses de jatos particulares), ambos saíram da pista diretamente para o aeroporto, deixando apenas Depailler no pódio. Certamente uma das premiações mais solitárias de que me lembro.
Videocassetada? Quase…
O grande prêmio de San Marino de 1989 ficou marcado por um esquecimento da organização da prova. Geralmente, os vencedores recebem as garrafas parcialmente destampadas, mas desta vez alguém esqueceu. A foto resultante disso é cômica: Senna, Prost e Nannini penando para tirar as rolhas do champagne.
Schumacher puxa Rubinho no pódio
Rubens Barrichello fez uma brilhante corrida no GP da Áustria de 2002 mas, no final, as ordens da Ferrari chegam pelo rádio e mandam ele ceder a vitória a Michael Schumacher. Na hora de receber o prêmio, o alemão coloca o brasileiro no lugar mais alto do pódio. O resultado da troca ficou muito vexatório para Schumacher. Entendo que exista jogo de equipe, mas literalmente naquela altura do campeonato não havia a menor necessidade de promover a troca.
Mudando de assunto: para recuperar o tempo ausente, eis uma piada ridícula:
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.