Trago mais um trabalho de Hugo Bueno, desta vez uma pesquisa longa que demandou um grande trabalho e que versa sobre um assunto que muitos gostariam de saber: os números de fabricação dos vários modelos da Volkswagen do Brasil, sendo que as condições disponíveis para a pesquisa permitiram levantar os dados de 1968 a 1976. Vamos ao trabalho do Hugo:
Números de produção – o que a Volkswagen fez entre 1968 e 1976?
Por Hugo Bueno
Em 2018, estive na sede da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) na cidade de São Paulo a fim de conhecê-la e buscar informações sobre a indústria automobilística nacional no acervo de documentos armazenados desde sua fundação em 15 de maio de 1956, a qual se confunde com a própria história da nossa indústria.
Infelizmente, naquele momento, o acesso ao acervo não foi possível pois havia-se iniciado um longo processo de separação, catalogação e digitalização do material guardado. Praticamente três anos após, em 2021, a Anfavea começou a disponibilizar parte do material, já organizado, para consulta, o que proporcionou a matéria-prima para essa análise que passarei a fazer sobre a produção de alguns modelos da Volkswagen entre os anos 1968 e 1976. trata-se de um intervalo bastante interessante onde alguns modelos, importantes historicamente, foram lançados, chegaram ao seu auge e, ainda dentro do período, foram descontinuados.
Foi importante também a visita que fiz em 2019 ao Museu da Imprensa Automotiva (Miau), também na capital paulista, onde obtive informações que complementaram o que faltava no acervo da Anfavea para esse período. Infelizmente por falta de informações de época, não foi possível fazer a análise para períodos anteriores ou posteriores ao determinado. É uma pena que a cultura dos próprios fabricantes ainda não permita que dados e informações antigas sejam disponibilizados para consulta.
Todo aficionado por veículos antigos tem a curiosidade de saber mais sobre a produção dos diversos modelos que hoje são tratados como carros de coleção. Enquanto muitos associam os números de produção do passado à dificuldade de se encontrar o modelo hoje em dia, outros só gostariam de conhecer os números para comparar com os concorrentes da época. Independente do objetivo, conhecer a produção passada enriquece muito a história do modelo e, quando se tem acesso a informações publicadas nos meios de comunicação antigos, elas servem como peças do quebra-cabeça histórico, explicando muita coisa.
Tendo isso em mente, meu objetivo era reunir a maior quantidade de dados de produção especificamente para os modelos fabricados pela Volkswagen do Brasil. Com muita paciência para esperar a divulgação de dados, com muita análise para entender como tratar cada informação, e buscando em outras fontes dados que faltavam, foi possível reunir informações sobre a produção entre 1968 e 1976, um intervalo de nove anos, com um razoável grau de certeza.
Cabe ressaltar que tais números não são uma verdade absoluta, estão sempre sujeitos a novas descobertas ou divulgações oficiais. Imagino que a gestão desses números estava sujeita a muitas variáveis o que acabava contribuindo para erros no somatório ou na transferência dos dados entre setores internos, entre a fábrica e entidades como a própria Anfavea, a imprensa da época e outras instituições de controle. Portanto, tais números servem como uma boa referência atualmente, considerando as fontes onde foram consultados.
Temos que entender também por que os números de produção não coincidem com os números marcados no chassi de cada veículo. A partir de 1970, quando ainda não havia padronização legal, de 17 dígitos, a Volkswagen codificava o chassi de seus carros com duas letras que identificavam o país/modelo, mais uma sequência numérica progressiva até o último produzido.
Nem sempre as versões de um mesmo veículo eram diferenciadas, assim como certas características específicas que o veículo possuía também não faziam parte da codificação. Era uma forma muito simples de identificar seus carros, o que nos dificulta bastante atualmente. Temos que lembrar também que tanto para chassi quanto para motores, a numeração começava sempre em 101, dando uma margem de 100 números antes de iniciar a produção definitiva, por isso a totalidade dos números de chassi e da produção são diferentes.
Premissas utilizadas na análise dos dados:
1) Para os anos de 1968, 1969, 1970, 1971 e 1972 foram analisados dados da Anfavea.
2) Para os anos de 1973 e 1976 foram analisados dados da Anfavea e da Volkswagen.
3) Para os anos de 1974 e 1975 foram analisados dados da Volkswagen.
4) Pequenas divergências em relação ao número de produção para alguns modelos foram encontradas nos anos de 1973 e 1976 quando as duas fontes, Anfavea e Volkswagen estavam disponíveis. O percentual de variação ficou entre 0,005% e 1,931%, o que demonstra a confiabilidades dos números. Certamente naquela época, cada fabricante alimentava a Anfavea com as informações que eram publicadas no início do ano seguinte. Consolidações posteriores provavelmente acabavam ficando de fora da publicação.
5) No período analisado, a numeração de chassi da Volkswagen começava com XX 000.101, o que deixa claro que, por esse número, teremos sempre 100 unidades a frente da produção real. Para a produção real, é preciso subtrair 100 do número do chassi.
6) Não foram analisados os dados de produção da Kombi e suas variações.
Considerações sobre a produção dos automóveis entre 1968 e 1976
VW 1600 4-Portas (“Zé do Caixão”): Apesar de ter sido lançado no Salão do Automóvel, de 23 de novembro a 8 de dezembro de 1968, oficialmente sua produção só foi iniciada em janeiro de 1969 com apenas 21 unidades, aumentando gradativamente e atingindo o pico de 2.905 em julho de 1969, voltando a cair atingindo somente três unidades em dezembro, totalizando 17.926 unidades produzidas em 1969, ano auge da produção. Esse registro ratifica matérias publicadas na época que já alertavam para o atraso na produção do novo modelo da Volkswagen. Enquanto isso, o Ford Corcel e o Chevrolet Opala, lançados no mesmo Salão, tiveram sua produção iniciada ainda em 1968, encerrando o ano com 4.594 e 305 unidades produzidas respectivamente. Em 1969, foram produzidos 33.697 Ford Corcel e 25.792 Chevrolet Opala, considerando todas as versões. Como podemos observar, seu concorrente direto, o Ford Corcel, teve uma produção quase o dobro da sua.
Já em 1970, também ratificando matéria de época, o VW 1600, foi o único modelo da linha para 1970 que não teve nenhuma unidade produzida em janeiro, atrasando a entrega ao mercado do modelo com novidades incorporadas. Não podemos esquecer que em junho de 1969, numa tentativa de alavancar as vendas do modelo, a Volkswagen lançou o VW 1600 L com uma quantidade de itens de luxo de série (para efeito de contabilização, não há como identificar um modelo em relação a outro). Alguns desses itens foram incorporados à linha 1970 do VW 1600 que voltou a ter somente uma versão, já que a “L” foi descontinuada.
A linha para 1971 foi lançada em agosto de 1970, ano em que foi encerrada a fabricação desse modelo. Foram produzidas ainda 33 unidades entre janeiro e fevereiro de 1971, totalizando 24.455 unidades em sua curta vida no mercado. Como existe a informação que o último chassi montado para esse modelo foi o “BB 24.580”, fazendo uma conta rápida, chegamos a uma produção de 24.480 carros (24.580 – 100). O número consolidado da Anfavea é de 24.455 carros, o que dá uma diferença, para menos, de 25 carros. No universo dos números, não chega a ser um erro grande, algo ao redor de 0,10% o que não compromete a análise e só confirma que o resultado não é uma verdade absoluta, mas é o mais próximo que conseguimos chegar da realidade passada.
VW Variant: Com a produção de três carros iniciada em outubro de 1969 e apresentada ao mercado em 4 de dezembro já como modelo 1970, trazia como principal novidade o motor traseiro de construção plana, configuração que permitia a existência de dois porta-malas, um traseiro, tal qual uma perua, e outro dianteiro. Da família, foi o modelo mais longevo e que mais fez sucesso, tendo sido produzido praticamente o dobro da produção somada de VW 1600 4-Portas e VW TL em suas duas versões, duas e quatro portas. Podemos dizer que foi um modelo vitorioso em seu nicho e para se ter uma ideia de sua força no mercado, considerando o ano de 1971 quando ambos os modelos já estavam consolidados, em comparação com seu concorrente direto, a produção do VW Variant alcançou 48.397 unidades enquanto do Ford Corcel Belina, somadas todas as versões, ficou somente em 5.258 unidades.
VW SP2: Lançado no dia 26 de junho de 1972, somente o VW SP2, teve 106 unidades produzidas nesse mesmo mês. Matérias publicadas em jornais da época comentavam sobre o sucesso do novo modelo no mercado. Mesmo sendo mais caro, a demanda superaria a capacidade de produção. De fato, o pico de produção desse modelo chegou a 603 unidades mensais em agosto de 1972, mas na maior parte de sua vida variou entre 100 e 300 unidades por mês, caindo bastante a partir do início de 1975, ano em que foi encerrada sua fabricação, porém 87 carros foram produzidos entre janeiro e fevereiro de 1976.
VW SP1:1 Segundo matéria em jornal da época, a produção desse modelo, cuja motorização era de 1.584 cm³ em vez da de 1.679 cm³ do SP2 e economizava em itens de acabamento, seria condicionada a pedidos específicos, não havendo produção em série. Analisando os dados de produção, essa versão é totalmente plausível, pois o volume total fabricado foi de 88 unidades, 44 em 1972 e 44 em 1973. Para reforçar essa informação de jornal da época, a produção do VW SP1 só foi iniciada em setembro de 1972 com 18 unidades produzidas. A partir de 1974 não se produziu mais nenhuma unidade desse modelo e os 88 produzidos entram na contabilização total de VW SP pois não havia diferenciação entre uma versão e outra na codificação do chassi.
Como existe a informação que o último chassi montado para o VW SP2 foi o “BL 10.307”, fazendo uma conta rápida, chegamos a uma produção de 10.207 carros (10.307 – 100). O número consolidado Anfavea mais Volkswagen é de 10.205 (10.117 + 88) carros, o que dá uma diferença para menos, de dois carros. Assim, como no caso do VW 1600, não chega a ser um desvio grande, algo ao redor de 0,02% o que não compromete a análise e só confirma que o resultado não é uma verdade absoluta, mas é o mais próximo da realidade passada que conseguimos chegar.
VW TL duas-portas : Lançado em agosto de 1970 durante a apresentação da linha Volkswagen para 1971, que também trazia como novidades o VW 1500 (“Fuscão”) e o Karmann-Ghia TC, teve 1.107 unidades produzidas no mês de lançamento, o que pode ser considerado um sucesso. Muito se especula que essa primeira versão chamada “frente alta” é rara, pois sua produção foi pequena em relação ao modelo seguinte.
Analisando os números, tomemos como premissa que o modelo “frente baixa” começou a ser produzido no mesmo mês que o TL quatro-portas, junho de 1971, quando houve o lançamento da linha para 1972. Assim, entre agosto de 1970 e maio de 1971, em apenas 10 meses de mercado, foram produzidos 31.315 VW TL ”frente alta”. De junho de 1971 a agosto de 1975, ao longo de 51 meses no mercado, foram produzidos 48.103 VW TL “frente baixa”. Com esses dados, podemos especular que a mudança repentina no design do carro com apenas 10 meses no mercado pode ter afetado muito a credibilidade do modelo, visto que as vendas despencaram mesmo com as mudanças significativas implementadas no modelo para 1972.
Certamente a chegada do VW Brasília, em junho de 1973, e do VW Passat, em junho de 1974, ajudou a derrubar ainda mais as vendas do TL duas-portas, levando ao encerramento da fabricação em agosto de 1975. Resumindo, podemos inferir que da produção total do modelo duas-portas do VW TL, 60,57% foram do modelo “frente baixa” e 39,43% do modelo “frente alta”, o que não o torna o mais raro dos VW TL.
VW TL quatro-portas : Lançado em junho de 1971 após a mudança repentina de estilo, só foi produzido com a “frente baixa”. Totalizando os números, chegamos a 29.895 unidades produzidas, ainda menos que o TL duas-portas “frente alta”. Apesar da produção não ter sido tão baixa, atualmente é um modelo muito difícil de se encontrar preservando suas características originais. Sua vida, ao longo de 55 meses de fabricação, foi dedicada a atender aos taxistas, à polícia e aos órgãos governamentais já que suas quatro portas facilitavam muito o acesso ao seu interior. Como era um dos modelos exportados pela Volkswagen, sua existência foi prorrogada em relação ao modelo duas-portas a fim de cumprir contratos vigentes, já que na maior parte do mundo a preferência era por modelos quatro-portas. Chile e Israel são países onde até hoje rodam nossos TL quatro-portas que deixaram de ser fabricados em dezembro de 1975.
VW 1500 (“Fuscão”): Lançado em agosto de 1970 já na linha Volkswagen 1971, fez um grande sucesso imediatamente ao seu lançamento. Provavelmente já esperando um ótimo desempenho nas vendas, sua produção começou com duas unidades em junho de 1970, aumentando para 925 em julho e 4.423 no mês do seu lançamento, agosto. Ao longo de 1971 o sucesso se intensificou fazendo com que a produção do Fusca 1300 caísse a praticamente um terço da média entre 1968 e 1970. Não podemos esquecer que um incêndio na Ala 13 da fábrica de São Bernardo do Campo, SP em 18 de dezembro de 1970, fez com que a produção ficasse prejudicada por vários meses. Conforme manchetes da época, toda a prioridade na linha de montagem foi dada para a produção do novo modelo cuja demanda era alta.
Podemos dizer que 1971, 1972 e 1973 foram os anos de ouro do VW 1500, nos quais sua produção superou as 100.000 unidades, chegando ao pico de 149.467 unidades fabricadas em 1972. Em 1974 a situação se inverte com o Fusca 1300 superando o número de unidades produzidas, mas ainda assim, acima de 100.000 unidades.
Já em 1975, com a chegada do Fusca 1300 L e os rumores de encerramento de sua fabricação, a produção do “Fuscão” ficou apenas em 29.333 unidades. De fato, a fabricação para o mercado nacional foi encerrada em abril de 1975, mas a tabela da Anfavea (e da Volkswagen) registra a produção de 4.668 unidades em 1976, todas para exportação no formato Completely Knocked-Down (CKD), ou seja, os veículos embarcavam desmontados e eram montados no seu destino. Qual terá sido o destino desses derradeiros “Fuscões”? No ano de 1973 existe uma diferença de 11.316 unidades produzidas entre as tabelas da Anfavea e da Volkswagen. No cômputo geral isso representou uma diferença de 1,931%, a maior encontrada, mas não afeta a análise dos dados.
Karmann Ghia: Lançado em 1962, conviveu seus dois últimos anos com o “irmão mais novo”, o TC. Enquanto um era novidade, o outro preparava sua despedida do mercado após dez anos de produção. A tabela da Anfavea não discrimina entre cupê ou conversível que foi produzido entre 1968 e 1970. Em seus dois últimos anos de produção, atingiu 702 unidades em 1971 e apenas 61 em 1972 quando encerrou sua participação no mercado, quantidade bem menor do que as 5.000 produzidas no ano de 1968.
Karmann Ghia TC: Lançado no mercado também em agosto de 1970, junto com VW TL e Fusca 1500, era parte da novidade apresentada pela Volkswagen para sua linha 1971. A produção, iniciada no mesmo mês do lançamento, teve seu pico em outubro de 1971 com 700 unidades produzidas. Saiu da mesma maneira que chegou ao mercado, junto com o VW TL e o “Fuscão” em 1975 após 18.119 unidades produzidas, sendo 469 nesse ano.
VW Brasília: Em junho de 1973, a Volkswagen apresentou ao mercado aquele que seria um modelo de grande sucesso no Brasil, o VW Brasília. A concepção do novo modelo priorizava o espaço para os ocupantes mantendo a robustez e confiabilidade dos demais modelos arrefecidos a ar. Podemos especular que a Volkswagen apostou na boa aceitação do VW Brasília, tanto que sua produção foi iniciada um mês antes, em maio de 1973, com 158 carros produzidos.
Em junho, mês do lançamento, deixaram a fábrica mais 1.827 carros. Nesse mesmo ano, meses antes, foram lançados o Chevrolet Chevette, e o Dodge 1800, seus concorrentes diretos. A produção anual de 1973 ficou da seguinte forma: VW Brasília = 34.710 (35.575 pelos dados da Volkswagen), Chevrolet Chevette = 31.703 e Dodge 1800 = 15.399 o que evidencia que o novo modelo da Volkswagen agradou ao consumidor. Entre 1973 e 1982, quando foi descontinuada, sua produção passou de 1 milhão de carros, um bom número considerando os quase nove anos que ficou no mercado.
VW 1600-S (“Bizorrão”): Apresentado para imprensa automobilística no fim de setembro de 1974, teve vida curta, sendo fabricado até abril de 1975. Procurava preencher uma lacuna de mercado e atender aos jovens da época que “envenenavam” seus carros. No lançamento, a Volkswagen não informou se esta seria uma série especial com um número determinado de unidades produzidas, ou se seria mais uma versão de série do Fusca. A imprensa da época especulava que era para ter sido lançado meses antes, porém a estratégia foi modificada para não coincidir com o lançamento do Passat que ocorreu em junho de 1974. Em função disso, o próprio material institucional da Volkswagen traz dúvidas sobre o início da fabricação desse modelo, pois são duas as informações encontradas em catálogos distintos, agosto de 1974 e outubro de 1974. Como podemos ver, até informações divulgadas pela própria fábrica podem ser conflitantes, mas analisando o contexto, é aceitável que realmente a fabricação tenha começado meses antes e o lançamento ter ocorrido no final do ano.
Infelizmente as tabelas de produção divulgadas pela Volkswagen para os anos de 1974 e 1975 somente totalizam o número, não disponibilizando a produção mensal. Após sete meses no mercado, em abril de 1975, a fabricação desta versão foi encerrada, revoltando muitos compradores que vislumbraram uma grande depreciação para um modelo tão novo. No início desse ano, 1975, a linha Fusca estava passando por uma grande reformulação. Com a chegada de novas versões, outras foram descontinuadas. O fato é que o VW 1600-S encerrou seu ciclo com 5.676 unidades produzidas.
VW 1600 (Fusca): Sucessor do VW 1600-S, sua fabricação iniciou em abril de 1975, no mesmo mês de encerramento daquele. Manteve alguns itens de aparência e o mesmo conjunto mecânico do “Bizorrão”, porém itens de apelo esportivo tais como painel completo, bancos reclináveis e escapamento lateral foram suprimidos. A intenção era não só atender ao mercado de jovens na época, mas também daqueles que buscavam mais desempenho com um visual mais sóbrio. Em nove meses, abril a dezembro de 1975, foram produzidas 14.070 unidades em comparação com as 5.676 produzidas nos sete meses do “Bizorrão” no mercado.
VW 1300-L: Com a fabricação iniciada em janeiro de 1975, essa nova versão foi lançada já vislumbrando a substituição do “Fuscão” no mercado, pois ambos tinham a mesma aparência, porém motorização diferente. É interessante que entre janeiro de abril de 1975, o Fusca teve quatro versões e três motorizações oferecidas simultaneamente: VW 1300, VW 1300-L, VW 1500 e VW 1600-S. Como seria interessante a presença desses quatro modelos lado a lado em uma coleção! Apesar do VW 1500 ter sido uma das versões mais acertadas do Fusca na visão de muitos aficionados, o VW 1300-L o substituiu a altura, atingindo praticamente o mesmo nível de produção dos primeiros anos do VW 1500.
Veja o comercial da linha 1975 do Fusca. O “Bizorrão” já não era mais citado:
VW 1300 – O carro-chefe em vendas da Volkswagen. Sua carroceria teve mudanças sutis ao longo do tempo e a que estreou no modelo 1971 foi produzida como Fusca Standard até 1982, mas foi perdendo equipamentos e ficando cada vez mais despojada à medida que o tempo passava. Muito utilizado por órgãos governamentais e por frotistas devido à robustez e durabilidade do conjunto, era também um modelo de excelente custo-benefício. Entre 1968 e 1976 sua produção média alcançava em torno de 100 mil unidades anuais, o que comprova que era um modelo muito bem aceito pelo mercado, não à toa ocupando a primeira colocação em vendas durante anos.
VW Passat: Apresentado em 1973 na Alemanha e lançado no mercado brasileiro em junho de 1974, foi o primeiro modelo arrefecido a água da Volkswagen do Brasil. Era um carro moderno, pois chegou por aqui logo depois estrear na Europa, o que aumentava a curiosidade do mercado nacional pelo novo modelo.
Foi lançado inicialmente com carroceria duas-portas e em dois níveis de acabamento, L e LS. No 9° Salão do Automóvel, aberto em 22 de novembro de 1974, a Volkswagen apresentou sua linha para 1975 e entre outros modelos, o VW Passat com sua carroceria de quatro portas e uma versão intermediária “informal” conhecida como LM, que nada mais era que a versão L com alguns equipamentos da versão LS.
O VW Passat Foi durante muito tempo tratado como o topo de linha da Volkswagen, tendo versões de luxo como, por exemplo, a LSE, e esportiva como o famoso TS, sonho de consumo de muitos jovens na época, ficando em linha até 1986 quando foi descontinuado. Como nossa análise se restringe ao período 1974 a 1976, um comentário interessante é que a Volkswagen informou a produção de seis VW Passat LS quatro-portas e VW Passat L também quatro-portas ainda em 1974. Será que estes foram os carros expostos no Salão do Automóvel?
Após tantas informações interessantes e comparações feitas, segue uma tabela resumo com os dados anuais formatados para facilitar o entendimento:
Espero que esse trabalho possa contribuir com os aficionados que buscam mais informações sobre a produção dos modelos apresentados. Todas as informações obtidas estão disponíveis para consulta na Anfavea e no Miau, bastando apenas um pouco de disposição para encontrá-las. Entendo também que muitas outras análises e comparações podem ser feitas, bastando a curiosidade e a criatividade de cada um.
Infelizmente, em função da limitação dos dados obtidos não foi possível abranger período diferente do que foi tratado aqui. Espero também contribuir com discussões sobre o assunto, reiterando que este trabalho não tem a pretensão de apresentar uma verdade absoluta e sim uma análise informal dos dados oficiais obtidos cujo objetivo é exatamente fomentar a discussão sobre a questão.
Há uma dificuldade na compreensão de como um carro pode ser produzido após o encerramento da sua fabricação. Tivemos vários exemplos aqui, VW 1600, VW SP2, VW TL quatro-portas e até o VW 1500 produzido em 1976 para exportação CKD. Podemos formular e discutir várias teorias, mas serão somente teorias. Certamente, a fonte definitiva de informações para que todas essas dúvidas fossem sanadas e algumas teorias fossem confirmadas ou não, seria a divulgação das fichas de produção da fábrica. Para os executivos que hoje exercem funções de liderança, a gestão de custos é questão de sobrevivência da empresa, por isso nem sempre o tratamento de dados históricos ou a manutenção de um acervo é viável economicamente.
Para nós, aficionados, o valor histórico supera em muito questões financeiro-administrativas e poder ter acesso aos valiosos registros que compõe cada ficha de produção seria um sonho para qualquer um de nós.
Fontes de pesquisa:
1) Informativos “Notícias da Anfavea”
2) Relatório Anual Exercício 1974 – Volkswagen do Brasil – março de 1975
3) Relatório Anual Exercício 1976 – Volkswagen do Brasil – fevereiro de 1977
4) Acervo Digital jornal O Globo
5) Acervo Digital Biblioteca Nacional
Agradeço ao Hugo Bueno por mais esta participação aqui nesta coluna. É um trabalho de fôlego que seguramente será uma referência para muitos colecionadores.
AG
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