É um processo inerente ao interesse que as pessoas desenvolvem em relação ao “objeto” (os apaixonados que me desculpem esta verdadeira heresia) de sua admiração.
Eu sou apaixonado pelos Volkswagens em especial os arrefecidos a ar. E em particular o Sedan, o VW Fusca, e costumo dizer que este “objeto”, como querem uns, e este “ser”, como querem outros que têm uma declarada relação afetiva com este simpático carro, tem uma história muito interessante que contou com ingredientes de várias origens diferentes. Não serei eu quem irá bater o martelo na definição desta pendenga no que se refere a definir se é “objeto” ou “ser”. Mas uma das definições mais simpáticas que circulam por aí é que o “VW Fusca é um membro da família, que dorme na garagem…”
Fato é que junto com o carro se cria uma verdadeira parafernália, que modernamente se convencionou chamar de “mementos”, que em seu conjunto pode vir a formar um “altar de adoração ao objeto do hobby”. E isto é realmente divertido, se bem que com o passar dos anos a brincadeira pode ficar meio “salgada”.
Aí vale tudo, mas tudo mesmo, desde miniaturas, cartazes, pins, bonés, adesivos, livros, revistas, canecas, copos, blusões e assim por diante. Sem esquecer das peças de reserva que às vezes atravancam a casa e são motivo de solenes discussões familiares. Bem-aventurados os que podem ter os seus galpões e cantinhos separados onde montar seus altares e depósitos estratégicos, ao lado dos reluzentes carros.
Até aqui eu acho que muitos de vocês já se identificaram, será que não?
Mas há coisas mais sutis em matéria de hobbies, coisas que implicam em uma busca mais sofisticada ou difícil e que, muitas vezes dependem da colaboração de terceiros que também foram inoculados por vírus de cepas semelhantes.
Pois é, vou contar um dos aspectos, dos muitos, de minhas manias por VW Fusca, e que me levou a um aprofundamento inicialmente imprevisível para mim. Eu sempre me encantei com pinturas de parede que usam a forma do Fusca e de seus parentes próximos, placas de loja (tempos atrás o Kassab, então prefeito de São Paulo, andou acabando com a minha alegria com a tal Lei Cidade Limpa que eliminou muitas placas antes que fossem devidamente “capturadas”).
Abaixo uma placa de uma auto elétrica na rua Arthur de Azevedo, em São Paulo, SP, Brasil, que sucumbiu à Lei Cidade Limpa, e que eu, passando por perto quando ela estava sendo descartada, “capturei”:
Comecei a reunir material ainda no tempo em que a fotografia era em papel. Pouco tempo depois fiz o meu début na Internet e decidi colocar o material num tal de website sem ter a mínima noção do que isto era, obviamente. Eu não tinha câmera digital (que estava em seu começo e era muito cara) ou um digitalizador de imagens. Mas “lá fomos nós” e de posse de um livro sobre HTML, de uma filmadora VHS-C e de uma placa de digitalização, o tal de website acabou tomando corpo e o material começou a vir de todo o mundo, atendendo a um chamado que fiz a meus contatos internacionais, nos tempos da internet acessada pelo telefone (o Orkut ainda existia):
Com o tempo fui me aperfeiçoando, adquirindo experiência e equipamentos, mas o material que se encontra disponível em meu site mostra todas estas fases de “evolução”, pois há imagens que estão disponíveis somente na forma em que estão não havendo então como melhorar sua qualidade/resolução.
Abaixo um exemplo que me marcou em especial. Eu trabalhei para o projeto da CTE 2 (central termoelétrica Nº 2 da CSN em Volta Redonda, RJ) e eu voava de São Paulo até o Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, onde eu pegava um carro alugado e ia para Volta Redonda pela Rodovia Presidente Dutra. A uma certa altura do caminho havia uma ruína com uma pintura de VW Fusca, que ficou por muito tempo da mesma maneira. Numa das vezes que passei a edificação estava quase toda demolida, ficaram só duas paredes em ângulo que as mantinham estruturalmente em pé. Na parede que estava virada para a rodovia lá resistia o VW Fusca pintado. Uma obra começou a ser feita naquele terreno, mas os restos daquela edificação permaneciam em pé. Passou um bom tempo para que eu, passando por lá, visse a parede ainda inteira, mas caída no chão, era o fim daquela pintura de VW Fusca que, parece, o pessoal não tinha coragem de derrubar:
Desenhar um Fusca é uma coisa difícil dada a sua forma arredondada e a sua perspectiva bastante complexa, mas há de tudo nesta coletânea, desde verdadeiras obras de mestre, como o exemplo abaixo
E até coisas menos caprichadas, posso dizer até toscas, mas realmente para mim vale tudo que tenha a forma do VW Fusca, como nos exemplos que se seguem (todas as fotos estão com sua legenda):
As decorações de portas de lojas só são visíveis em feriados ou domingos, e eu consegui muitas “capturas” em “safaris de caça a pinturas de Fusca” feitos quando as lojas estavam fechadas.
Neste trabalho há espaço para os parentes próximos do Fusca, ou seja o Kombi, o Karmann-Ghia, etc., como as “criações livres” feitas usando sua robusta mecânica.
Por muito tempo o Fusca foi o carro mais desenhado pelas crianças, tanto aqui como em vários outros lugares do mundo. Um fuscamaníaco da Nova Zelândia, Lyndon Hoockham, me enviou a captura de uma placa pintada por alunos de 5 a 10 anos de uma escola da área rural de Wainuioru. Esta placa chama a atenção dos motoristas para a travessia de crianças e seus dizeres são: “Take Care our School is Here” (tome cuidado nossa escola é aqui). Apesar de não existirem muitos Fuscas por lá, onde as estradas são dominadas por carros japoneses, as crianças escolheram desenhar um Fusca amarelo nesta placa. É uma das “capturas” de meu acervo pela qual tenho mais carinho:
Os grafiteiros não deixaram de expressar a sua opinião contrária à volta do Fusca em 1993, como dois desenhos combinados feitos numa esquina da Rua Fradique Coutinho, em São Paulo, SP, Brasil, mostravam. Um deles mostrava a frente do Fusca com o Itamar atravessando o para-brisa, segurando o volante ainda preso à barra de direção e nos dizeres se lia: “Itamar nas curvas”:
Se vocês notarem, o Fusca e o Kombi ainda são usados hoje em dia para propaganda, nas diferentes formas de mídia com grande frequência e, falando de parentes do VW Fusca, a Kombi Fillmore do filme “Carros” é a miniatura que mais vendeu nos EUA e no resto do mundo!
Só que os dias de uso do Fusca em pinturas de parede já estão em seu ocaso e é raro encontrar algo. Se bem que, hoje com o advento das câmeras digitais e dos celulares com câmera de alta definição, seria muito mais fácil e mais econômico “capturar” imagens pintadas em paredes, portas, anúncios etc.
Como exemplo aí vai uma das primeiras contribuições fotografadas por celular, de dentro de um ônibus (com janelas tonalizadas – dai as cores da imagem) num pedágio em Paraíba do Sul:
E se você se interessou e gostaria de vir a ser um colaborador deste trabalho enviando fotos das pinturas de parede que você encontre por ai (de preferência várias e de vários ângulos) pode enviá-las pelo e-mail [email protected] (se você precisar do número de WhatsApp eu posso enviá-lo por um e-mail de retorno). Sempre serão dados os créditos a quem de direito, pois, como o caipira bem o diz, “Não se faz mesuras com o chapéu alheio.” Eu sempre tento anotar dados da pintura de parede, como o endereço onde a pintura está, nome do estabelecimento, nome do artista, data da pintura, obviamente se isto for disponível.
O sonho é depois de algum tempo fazer um álbum com este material, mas com tantas imagens o custo de impressão pode vir a ser um empecilho a ser vencido.
O trabalho que começou com pinturas de parede foi ampliado em vários outros capítulos, mas isto pode vir a ser motivo de outro bate-papo com vocês. Em tempo, quem ficou curioso em visitar o tal website poder dar uma olhada no endereço www.fuscabrasil.net . Estou preparando uma revisão/atualização deste site.
Eu gostaria de motivar outros grupos de colecionadores, pois há pinturas de parede de vários tipos de veículos que certamente poderão interessar aos apreciadores das respectivas marcas.
Por exemplo, tenho um bom amigo, que adora Lambrettas e Vespas, se bem que confessa ter um coração para Fuscas também, o Umberto Spilotros, e para ele eu enviei a “captura” de uma Lambretta pintada na parede de um antiquário de Pinheiros em São Paulo:
Muitos das pinturas registradas neste trabalho já não existem mais, mas estes registros contam a história da influência do VW Fusca e de seus parentes próximos na cultura de vários países através destas pinturas em paredes.
Aproveito a oportunidade para:
Desejar a todas às minhas leitoras e aos meus leitores
Um Feliz Natal e um excelente Ano Novo
Agradeço a todos que me acompanharam em 2022
e os espero de braços abertos em 2023
AG
A foto de abertura é de uma loja da Av. Duque de Caxias, em São Paulo, SP, Brasil. O meu site já esteve hospedado em vários provedores, inicialmente um que era gratuito e que depois simplesmente parou de existir (Geocities), causando um trabalho enorme para passar para um site pago. E desta mudança feita à toque de caixa sobraram alguma pontas soltas que estão sendo arrumadas paulatinamente.
Fico torcendo para que em algum lugar do Brasil, ou do mundo ainda existam exemplos de pinturas de VW Fusca em paredes que possam ser “capturadas” para este trabalho. As fotos nesta matéria foram processadas por um sistema de tratamento com inteligência artificial, o que possibilitou uma grande melhoria e dobrou o seu tamanho através da resolução maior. Sendo assim elas estão melhores aqui do que suas versões originais que estão no site.
NOTA: Nossos leitores são convidados a dar o seu parecer, fazer suas perguntas, sugerir material e, eventualmente, correções, etc. que poderão ser incluídos em eventual revisão deste trabalho.
Em alguns casos material pesquisado na internet, portanto via de regra de domínio público, é utilizado neste trabalho com fins históricos/didáticos em conformidade com o espírito de preservação histórica que norteia este trabalho. No entanto, caso alguém se apresente como proprietário do material, independentemente de ter sido citado nos créditos ou não, e, mesmo tendo colocado à disposição num meio público, queira que créditos específicos sejam dados ou até mesmo que tal material seja retirado, solicitamos entrar em contato pelo e-mail [email protected] para que sejam tomadas as providências cabíveis. Não há nenhum intuito de infringir direitos ou auferir quaisquer lucros com este trabalho que não seja a função de registro histórico e sua divulgação aos interessados.
A coluna “Falando de Fusca & Afins” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.