O leitor ou leitora do AE sabe que nos nossos textos, inclusive na seção de comentários, tomamos extremo cuidado com as unidades de medidas. Isso tem dois porquês, um é a consciência de que todos merecem ler textos os mais corretos possível, outro, o que acreditamos ser nosso (da imprensa) dever, informar corretamente.
Sempre se deve separar a linguagem falada da escrita. Um dos melhores exemplos é ao falar de peso (foto de abertura). Na conversa informal pode-se falar em quilos, mas em texto nunca, pois quilo não é unidade de peso, mas um prefixo que significa mil. Então, ou escrevemos quilogramas (1.000 gramas é igual a 1 quilograma) ou kg, Além disso sempre informamos peso e não massa, que são coisas diferentes — o peso leva em conta a aceleração gravitacional da Terra. E as fabricantes sempre informam peso, não massa.
Muitos já devem ter notado um ponto a meia altura em unidades como a de torque, m·kgf ou N·m. ou kW·h, consumo de energia elétrica. É um cuidado que temos. em que o ponto significa multiplicação. É claro que todos entenderão essas unidades sem o ponto a meia altura, mas não custa colocá-lo.
Também obedecemos a regra de unidades não se flexionarem, não terem singular e plural, apenas singular A distância pode ser de 1.500 quilômetros, mas nunca 1,500 kms, sempre 1.500 km.
Novamente a questão de conversa informal ser admitida, mas nunca na conversa formal ou escrita: pressão (de enchimento) de pneus. A unidade de pressão no Sistema Internacional é o bar, mas como escrevi na semana passada há a força do hábito. A maioria das pessoas, ou mesmo todas, entende que pressão dos pneus é em libras e é essa unidade que usamos. Mas quando se trata de texto, usamos a unidade na sua forma completa, que é libras por polegada quadrada, símbolo lb/pol². Muitos já devem tê-lo notado.
Outra unidade de uso constante no AE é a de volume, no caso de cilindrada. A unidade para isso é o centímetro cúbico, símbolo cm³. Já foi cc, mas vejo muitos leitores usarem-no nos textos de comentários, que invariavelmente troco para cm³ (que me perdoem por isso). Até nas revistas americanas vejo esse tipo de apego quando se trata de polegadas públicas, usam cu.in em vez de in³. Outro grupo que não larga o cc de jeito nenhum é o das motocicletas, inclusive fabricantes como a Honda. Inexplicável.
Por falar em cilindrada, em que nos atemos ao termo francês cylindrée aportuguesado, evitamos, por considerarmos desnecessário, usar substitutos corretos como deslocamento, deslocamento volumétrico, capacidade volumétrica ou qualquer outro. É uma pena muitos acharem que cilindrada é unidade de volume, quando é uma medida como tantas outras — distância, altura, temperatura, etc. — e que levou muitos, até o pessoal de algumas fabricantes, a escrever cilindradas nas fichas técnicas, e levar lexicólogos a oficializar o verbete nos dicionários.
Outro cuidado do AE é grafar corretamente as unidades de temperatura. É frequente se ver, por exemplo, 25º C, até nos quadros de instrumentos de muitos carros, mas na verdade é 25 ºC, 40 ºF. De novo, pode-se falar ‘graus’, mas não na linguagem escrita, que deve ser graus Celsius.
Para finalizar e copiando a nossa Nora Gonzalez. mudando de assunto: alguém sabe o que nossas moças do tempo da tevê querem dizer quando falam em tempo ‘abafado’? Não faço a menor ideia.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.