Alguma pessoas do meu círculo me dizem não gostar do controlador automático da velocidade de cruzeiro, e isso me intriga, pois considero-o um velho e útil auxílio ao motorista.
O dispositivo foi inaugurado nos automóveis pela Chrysler no carro homônimo modelo Imperial, em 1956, porém com o famigerado nome Auto Pilot. Mas bem antes disso o Ford modelo T tinha um rústico controlador para esse fim com seu acelerador de mão junto à coluna de direção, uma pequena alavanca sem ação de mola em que se podia escolher a aceleração do motor e, por conseguinte, a velocidade — desde que o terreno fosse plano.
Lembro-me que o FNM 2000 JK, versão brasileira do Alfa Romeo 2000 sedã (berlina em italiano) lançado na Itália em 1958 com foco no mercado americano, tinha no lado esquerdo do painel uma pequena alavanca de puxar que controlava a abertura da borboleta do acelerador da mesma forma que se movimentando o pedal, porém sem ação de mola também.
Vale comentar que o pedal do acelerador dos veículos emprega o Princípio do Homem Morto (Dead Man Principle): em caso de morte do motorista ao volante, todo controle com mola de retorno retorna à posição inicial. Nos controles de potência dos trens elétricos, inclusive os subterrâneos, é assim.
Com a chegada da eletrônica aos automóveis, em especial o acelerador elétrico controlado eletronicamente, o controle automático de velocidade de cruzeiro tornou-se bastante preciso (antes era complicado e impreciso, havia um pequeno servo a vácuo para movimentar a abertura da borboleta do carburador).
O mais intrigante é haver quem ache, até mesmo entre fabricantes, que controlador de cruzeiro e câmbio manual são incompatíveis, o que é totalmente falso. Uma coisa não tem nada a ver com outra. Logo me vem à cabeça o VW Fox Xtreme,1,6 manual 4+E com o controlador, um dos carros que mais gostei de dirigir.
Utilidade
Para quem como eu gosta desse controlador, sua utilidade é imensa, especialmente nos nossos dias de “caça eletrônica aos motoristas”: jamais o limite de velocidade será ultrapassado. No meu caso e de muitos que andam no “limite do limite” — na tolerância legal de medição — é um dispositivo indispensável. Numa autoestrada de 120 km/h de limite aciono o controlador a 129 km/h velocidade indicada e sigo sem preocupação no plano e nas subidas, mas é preciso atenção nas descidas: são poucos os controladores que mantêm a velocidade nessa condição, por exemplo os Mercedes-Benz. Por isso, atenção com as descidas de serra de baixo gradiente, como a da Rodovia dos Imigrantes, de 5%, ao usar o controle de cruzeiro.
Dirigir com o controlador de velocidade é um “dirigir por fio” (drive by wire). Ao encostar o pé no pedal de freio o sistema para imediatamente de atuar, caso de se alcançar um carro mais lento. Quando for possível efetuar a ultrapassagem basta apertar o botão Res (resume, retomar em português. no caso retomar a velocidade anterior).
Outra praticidade do controle é estar com o controle acionado e precisar aumentar a velocidade por qualquer motivo. em que basta acelerar com o pé e, terminada a necessidade, é só soltar o acelerador que a velocidade volta à que estava.
Outro caso comum é o limite de velocidade baixar, como de 120 km/h para 100 km/h: é só apertar o botão (–) do controle e mantê-lo apertado até o velocímetro acusar a nova velocidade, e soltá-lo.
Outro uso prático do controlador é ao arrancar após pagar o pedágio ou retomar velocidade a partir de 40 km/h depois de passar pela cancela. É só apertar o Res que o veículo retoma velocidade de maneira calma porém sem fazê-lo como uma lesma.
Discussão: o ACC
São as iniciais, em inglês, de controle de cruzeiro adaptativo (adaptive cruise control). É encontrado cada vez mais nos automóveis e citado com destaque nas informações de produto. A ideia é seguir o trânsito ajustando automaticamente a velocidade segundo a do veículo à frente. Pode tanto desacelerar quanto frear o nosso carro.
Há quem aprecie essa estratégia do controle de cruzeiro, há quem não, e é neste grupo que estou. Acho o ACC invasivo, “ele” reage diferentemente de mim. É como seu eu estivesse sendo conduzido e não conduzindo. E, pior, o sistema não deixa ultrapassar pela direita, manobra necessária nesta terra descoberta por Cabral cheia de “proprietários da faixa esquerda” ou com bem disse o jornalista automobilístico canadense que escrevia (ou escreve) para o jornal do seu país The Toronto Star, são os “bandidos da faixa esquerda” (left lane bandits).
Só sei que penso cada vez mais no brasão da cidade de São Paulo onde se lê Non dvcor, dvco — Não sou conduzido, conduzo.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.