O Luciano Hernandez Gonzalez Junior já é nosso conhecido colaborador¹ e desta vez ele nos brinda com mais um causo especial, dadas as suas implicações na família dele.
O resgate do VW Fuscão ‘73
Por: Luciano Hernandez Gonzalez Junior
Salve amigos entusiastas, tudo certo?
Bem, venho através da coluna “Falando de Fusca & Afins” do amigo Alexander Gromow, trazer mais um delicioso causo do mundo “air-cooled”, que dessa vez diz respeito ao salvamento de um belo VW Fuscão Amarelo Texas 1973 que acabou indo parar na nossa família, nas mãos do meu sogro Erivelto Silva (“Bel” para os íntimos).
Março de 2022, era uma manhã em que eu estava em casa trabalhando em regime de home-office quando então recebo uma mensagem de WhatsApp de um rapaz que havia trabalhado comigo, o Vagner.
O Vagner sabe da minha paixão por Volkswagens antigos e então resolveu me procurar:
—“Luciano, sei que você gosta e cuida, tenho uma coisa boa para você e que é a sua cara: trata–se de um Fuscão 73. Esse carro era do meu tio-avô que faleceu há muitos anos; e ele ficou de herança para mim e para meu irmão. Mas nós o usamos pouco: o plano era restaurá–lo. Porém, uns 10 anos atrás, eu estava rodando pela Via Anchieta e, de repente, subiu um “fumação” e o motor parou… Esperei esfriar, consegui funcionar e cheguei até a minha casa. Lá, com mais tempo, desmontei o motor todo e constatei que um pistão estava com a canaleta quebrada… Eu ia “levantar” esse carro, mas logo na sequência sofri um acidente de moto e não mexi no carro desde então. Já faz uns 10 anos. E, para piorar, o imóvel onde o Fusca está foi devolvido e o Fusca precisa ir embora, isto com dor no coração”.
Juntamente com este texto, ele enviou diversas imagens do carro. Era interessante e barato, mas minha esposa ia me matar se eu aparecesse com mais uma “lasanha” em casa, (risos)… Abaixo algumas destas fotos do Vagner:
Foi aí que tive a ideia de enviar essas informações para o meu sogro (que é um apreciador de VW Fuscas de carteirinha), e ele me respondeu:
— Vai lá ver o carro. Se tiver potencial, fecha negócio e manda para cá” (ele mora na cidade de Atibaia, SP) e assim foi feito.
Marquei de ir ver o carro em um sábado de manhã, chegando lá, fui analisando o carro e gostando do que estava vendo, hoje é muito difícil achar algo bom com preço justo. O carrinho estava feinho, um pouco descaracterizado, o motor todo desmontado (do jeito que eu gosto) mas era rico em peças originais: lanternas, faróis, vidros, partes internas. A estrutura estava boa, chassis idem, caixa de estepe em ordem. E uma coisa muito importante: documentos em dia. O carrinho era realmente bom!
Bastou um telefonema para o “Bel” e o negócio foi fechado!
Eu e o “Bel” combinamos que o motor iria ficar aqui comigo em São Paulo, Capital, e o carro iria para Atibaia, SP. Eu deixei o motor aos cuidados do amigo e mecânico Edison Noronha (“Du”) em cuja oficina fizemos o motor “do zero, à moda da casa”, ou seja, com tudo de bom, muito carinho, cuidado e paciência, coisas que só o “Du” sabe fazer.
Mãos à obra: virabrequim e volante estavam OK. Bronzinas de virabrequim e comando de válvulas comprados novos da Mahle. Retentores da Sabó. Os cabeçotes ainda eram originais com os timbres Volkswagen, foram mandados para a retífica para um belo trato. A carcaça (bloco) ainda estava boa, foi feita uma boa limpeza e alguns ajustes pontuais. Foi montado um kit 1600 da KS. Os kits 1500 ainda são encontrados, mas com mais dificuldade. Porém o valor de um kit 1500 pode chegar a quase o dobro de um kit 1600 devido ao pequeno volume de vendas do primeiro. O kit incluiu os pistões, anéis e cilindros.
Usamos um comando 513 de Kombi à álcool (indicação do amigo, restaurador e preparador de Volkswagens arrefecidos à ar, o José Carlos Gasparetto de Porto Alegre, dono da Upgrade Car Customs). Entrou uma bomba de óleo da Shadek de 26 mm (do Fusca “Itamar”). Montamos um kit novo de ignição eletrônica Bosch juntamente com um novo alternador e um distribuidor, ambos também Bosch. Adicionalmente montamos um carburador Solex PIC 30, todo revisado, que eu tinha de reserva. A bomba de combustível é da Brosol. A bobina é da Magneti Marelli 077. Cabos pinados da Bosch. Tampa do distribuidor e rotor Bosch. Tanque de combustível novo. Linha de combustível limpa e revisada. E, por fim, um belo trato na parte estética. Foi refeita a pintura eletrostática das latas do motor. Todas as peças galvanizadas também foram recuperadas. E a cereja do bolo: de volta o elemento filtrante do ar original banhado à óleo:
E os trabalhos no motor continuavam na oficina do “Du”:
Em paralelo o “Bel” corria em Atibaia com o carro na oficina do Sr. Pedro e do meu xará Luciano: sistema de freio, suspensões, rolamentos revisados na íntegra. No câmbio, arriscamos, ele foi lavado e o óleo foi trocado, por sorte deu certo.
Com isso pronto, fui a Atibaia num final de semana a fim de preparar o cofre do motor para a subida do motor. Aproveitamos e lavamos o carro e descobrimos que a maior parte da pintura do carro ainda era original. Era a certeza de que havíamos feito uma boa escolha, o amarelo Texas voltava a brilhar!
Mecânica feita, era hora de promover o reencontro do carro com o motor: trouxemos o Fusca para São Paulo de guincho para a oficina do “Du” onde foi feita a montagem do conjunto. Alguns acertos de praxe, uma embreagem nova e o velho besouro voltava a funcionar depois de 10 anos!
Carro no chão, demos uma voltinha básica para acertos. Daí eu levei o VW Fusca ao eletricista onde foi feita uma revisão geral do sistema. Agora o carro estava apto a voltar rodando para Atibaia e assim foi feito. Uma viagem de 80 km sem sustos, já aproveitando para fazer o amaciamento do motor. Uma viagem gostosa, mas com um pouco de tensão, é verdade, medo de que algo desse errado, mas tudo foi muito bem.
Com o carro em Atibaia confiamos a reforma dos bancos Procar a um tapeceiro especializado em Volkswagens antigos que fica em Bragança Paulista. Ele possui um apelido no mínimo curioso: “Carcinha”, que é uma alusão aos VW Fuscas “azul calcinha”, que era a denominação popular da cor azul Diamante. Chegou a vez do volante, eu tinha dois da grife Emerson Fittipaldi para restauro, achei que o “Jarama” combinaria com a customização de época e assim o fiz. Arrumei também um Motoradio 1973 (do ano do carro) restaurado pelo competente Carlo Cesana.
O “Bel” também resolveu dar um banho de tinta de “porta fechada” no “Amarelinho” com o “Fininho” (amigo dele e funileiro de Atibaia):
Chegamos à um resultado bem satisfatório, como vocês podem ver na foto de abertura.
É meu caro “Amarelinho”, nem todos tiveram a mesma sorte, você estava na UTI e trouxemos você de volta, bem-vindo de volta à vida!
Como o “Amarelinho” acabou sendo uma grata terapia
A vinda do “Amarelinho” veio muito bem a calhar em um momento delicado na vida do meu sogro Erivelto, ele acabara de perder sua mulher, Maria Estela Oliveira Junqueira — falecida em 21 de dezembro de 2021, e precisava de algo para se distrair. O “Amarelinho” foi uma grande e bem-vinda válvula de escape, uma distração e uma terapia.
Abaixo segue uma singela homenagem à Estela:
(¹) – No final do causo “O VW Fusca do Valdemir” o Luciano se apresenta, vale a pena dar uma olhada. Aliás o causo do VW Fusca do Valdemir também tem uma grande carga de sentimentos.
Agradeço ao Luciano por mais este causo e espero que outros virão para a alegria de nossos leitores e leitoras.
Todas as fotos deste causo foram enviadas pelo Luciano.
AG
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