Revisitada porque há pouco mais de três anos falei a respeito de pronúncias e de lá para cá há novidade, trazida pela BYD. A grande fabricante chinesa adota o tema Ocean, obviamente oceano em inglês, para nomear seus modelos, inspirando-se nos animais marinhos e no próprio oceano. No começo do ano a BYD estreou no mercado com o hatchback Dolphin. golfinho em inglês. O nome não teria grande dificuldade de ser assimilado e pronunciado por conhecermos há 65 anos o nome francês Dauphine, a fêmea do golfinho. Foi utilizado pela Renault em 1957 para designar seu novo carro pequeno e sucessor do 4CV (lembro que na França automóvel é gênero feminino). Também, o ‘ph’ e seu som de ‘f’ era conhecido de longa data devido à suspensão McPherson.
Mas a BYD tem um hatchback compacto, menor que o Dolphin (3.780 mm x 4.125 mm de comprimento) e decidiu trazê-lo: o Seagull, gaivota em inglês. A fabricante resolveu dar-lhe outro nome aqui, certamente temendo dificuldade de pronúncia e compreensão, — [sea’gul] — e rebatizou-o de Dolphin Mini. Uma decisão impensada e deselegante visto que mini, ou MINI, é marca da BMW há exatos 30 anos.
Mas no caso do sedã grande BYD Seal (foca em inglês) a fabricante pareceu não se importar com a má compreensão do nome do modelo, que se pronuncia [si‘al] e que aqui seria [se’al], e manteve o nome original,
É claro que se trata de mero detalhe, afinal as pessoas pronunciam palavras de língua estrangeira da maneira que bem entendem e querem e nem por isso deixam de se fazer entender.
Temos aqui um bom exemplo disso com uma marca muito conhecida: Volkswagen. Ninguém pronuncia volksuagen, pois sabe que apesar de w ter som de [uoo’ti] em português brasileiro, em alemão é [vê], e o g na língua de Goethe tem som de gue.
A Peugeot teve o mesmo receio de seu nome não ser corretamente pronunciado quando entrou no mercado americano no final dos anos 1950. Em todos os anúncios na mídia impressa constava, entre parênteses, Pronounced p+’joot.
Outro caso de pronúncia bem conhecido é o das marcas DKW e BMW. Nunca ouvi ninguém pronunciar de’ka’dábli‘u, sempre de’ka’vê. Tanto que quando a Regino Import reuniu a imprensa em São Paulo para anunciar o início da importação oficial do BMW, tão logo as importações foram reabertas no começo de 1990, na hora das perguntas e respostas fui o primeiro jornalista — estava na Oficina Mecânica — a dirigir uma pergunta: vocês chamarão o carro de beemevê ou beemedábliu? “beemedábliu”, responderam, mas não sem antes os diretores se entreolharem e cochicharem.
Uma curiosidade desse desse evento foi de tanto o pessoal da Regino Import falar em Dreier, o série 3 em alemão — o primeiro que chegou, de avião, em Guarulhos foi um 320i 2-litros de seis cilindros. 12 válvulas e 130 cv, manual — no caderno de Automóveis de um importante jornal a manchete foi “BMW Dreier chega ao Brasil”. A culpa não foi da excelente jornalista, mas da comunicação do importador.
BS
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