Chassi da F-1600 recebe suspensão por triângulos superpostos. Projeto tem assinatura de dois engenheiros. Old Stock abre espaço para novatos.
Apesar das dificuldades impostas aos promotores de corridas em São Paulo, consequência da política de utilização do autódromo de Interlagos, o esporte continua dando mostras de vitalidade e otimismo. Nos últimos dias duas novidades foram anunciadas para os regulamentos técnicos das categorias F-1600 e Old Stock Race, o que mostra que ainda há esperança para resgatar o automobilismo regional.
Formada a partir de um racha entre os idealizadores e adeptos da F-Vee, a F -1600 surgiu a partir de um chassi derivado do Naja 01, incluindo a suspensão dianteira VW por braços arrastados duplos com feixes de lâminas de torção, e traseira por semieixos oscilantes; o motor VW boxer arrefecido a ar, porém, foi substituído por um Ford Zetec 1,6 Rocam. O desempenho de ambas soluções, curiosamente, é praticamente igual: os carros mais velozes de uma e de outra viram na casa de 1’58”em Interlagos. Para comparação, vale mencionar que um Stock Car completa os 4.314 metros do traçado paulistano em torno de 1’39″, um carro da Força Livre em 1’43″ e um F-3, a categoria mais rápida do País, em 1’30″; todos eles, no entanto, demandam investimentos bem mais vultosos que os dois monopostos citados anteriormente.
O desempenho da F-1600 e da F-Vee deverá melhorar substancialmente em breve, já que ambas preparam novidades, quesito em que a primeira largou na frente ao apresentar a variante de suspensão por triângulos superpostos na dianteira e na traseira. Os promotores da segunda, por seu lado, trabalham em uma opção mais ampla e desenvolvida por Ricardo Divila; o carro com chassi modernizado deverá ser propulsionado pelo motor VW de três cilindros, turboalimentado, o mesmo que equipa modelos como o up! 1,0 TSI e o Golf 1,0 TSI. Problemas de compatibilidade entre o módulo eletrônico original do motor e o conceito do chassi estão atrasando o andamento do projeto.
A ideia de instalar suspensão por triângulos superpostos na F-1600 surgiu no ano passado em função de manutenção e custos cada vez mais elevados e problemáticos devido à dificuldade de encontrar peças de suspensão em perfeitas condições. Os parâmetros básicos do projeto foram definidos por Fábio Birolini e Sílvio Novembre, mas a mudança dos rumos profissionais deste último levou a dupla Dudu Peirão e Jayme Barbarisi a assumir o desenvolvimento desse upgrade, agora sob supervisão única de Birolini, cujo currículo inclui o projeto do grã-turismo Lobini. O kit da suspensão ainda está em fase de desenvolvimento: o shake down, primeiro teste de pista do conjunto, deverá ser no fim de semana no autódromo do Esporte Clube Piracicabano de Automobilismo (EPCA), em Piracicaba (SP). A experiência poderá comprovar a validade das soluções adotadas no chassi Magusto R5, e indicar o ganho de performance relativamente ao modelo em uso.
“Como vamos manter as especificações atuais de motor, pneus e câmbio, o ganho será conseguido nas curvas e vai depender do acerto de cada piloto”, explica Birolini, para quem “é possível pensar em um ganho de dois segundos por volta em Interlagos”. Com relação ao preço ele explica que o custo vai depender do número de conjuntos fabricados na primeira fase:
“Se fizermos uma série de dez kits acredito que possamos chegar a cerca de R$ 7 mil por unidade, mas isso pode mudar”.
Opala 250
Em caminho distinto ao adotado pela F-1600, os responsáveis pela Old Stock Race anunciaram a criação de uma classe “light”, aberta a modelos de qualquer ano e com carroceria de duas ou quatro portas, mas sempre equipado com o motor Chevrolet 250, de seis cilindros, e destinada exclusivamente a pilotos novatos. O nome da nova categoria é Opala 250.
De acordo com Grego Lemonias, um dos idealizadores da Old Stock Race (OSR) junto com o artista plástico Paulo Soláriz, “cerca de 25 interessados participaram da primeira reunião que fizemos, em Interlagos, para apresentar essa proposta”. A primeira prova deverá ocorrer no final desta temporada, no intervalo entre as duas baterias da etapa final da categoria já conhecida.
Não deixa de ser louvável a atitude de Lemonias e Soláriz em abrir uma opção mais econômica à OSR e aos muitos admiradores do clássico Opala. A proposta, vale lembrar, é utilizar soluções mecânicas com preparação mais reduzida e custos mais baixos na esperança de diminuir os custos de construção atualmente praticados: um carro de ponta da Old Stock atual demanda investimento mínimo de R$ 150 mil.
Apesar do apelo que a novidade exerce para atrair novos pilotos e revelar nomes para a OSR, há de se lembrar situações já conhecidas e inevitáveis para categorias baseadas em carros que já deixaram de ser fabricados há tempos. Invariavelmente a demanda por peças cada vez mais raras gera o aumento de preços nas peças de reposição, sempre mais raras com o passar do tempo, sem falar na dificuldade de se encontrar monoblocos ainda não submetidos a esforços ou utilização que não tenham abalado suas propriedades mecânicas de resistência à fadiga e à torção. Os famosos TC argentinos mantém a aparência de automóveis dos anos 1960/70 com a utilização de carrocerias do tipo bolha: seus chassis e partes mecânicas são modernos e mesmo os blocos dos motores são produzidos artesanalmente. Nem por isso o espetáculo proporcionado por modelos clássicos deixa de ser interessante, apenas não é tão econômico quanto possa parecer.
WG