Há certos termos estranhos que permeiam na imprensa que o AE simplesmente se refreia de usar, em especial aqueles mais comuns, os anglicismos. Absolutamente nada de xenofobia, mas considerar desnecessário para o bom entendimento por quem nos lê. Claro, por força da terminologia da informática alguns termos são usados no universal inglês, como mouse, site. Ficaria estranho dizer rato e sítio, embora este último seja utilizado pela imprensa oficial. Parece-me que os espanhóis usam ratón em vez de mouse.
Até aqui no AE alguns termos nos escapam, como showroom, embora usemos também salão de vendas. De qualquer maneira, nossa diretriz é nos atermos ao nosso idioma.
Startup
Essa palavra é a queridinha dos textos de economia. Em inglês significa uma empresa ou firma que está começando ou pessoas que estejam pensando em iniciar um negócio. É essencial usar o termo num texto em português? De modo algum. Basta dizer de se trata da nova empresa tal, ou então que fulano, beltrano e sicrano estão planejando fundar uma firma. Na minha visão, startup é uma firma famosa pelo que vai fazer…
Motes
É normal empresas terem motes, ou slogans, para comunicar e enaltecer seus produtos. Acho que todos conhecem “Você conhece, você confia” (VW) e os mais velhos se lembram de “Vemag, brasileiros produzindo veículos para o Brasil”. Mas quando o mote é em língua estrangeira ele fica sem sentido mesmo para quem conhece o idioma em questão.
Houve um mote que tinha ares de profecia: “Carro a álcool. Você ainda vai ter um.” Foi criado em setembro de 1978 pela Copersucar, então detentora de mais de 50% da produção de álcool aqui. A profecia se realizou: em 1988 90% da produção nacional foi de carros a álcool.
A Audi começou a usar em 1971 “Vorsprung Durch Technik”, avanço pela tecnologia em alemão, e assim veio até recentemente, inclusive na comunicação no Brasil, Mas no site da Audi brasileira o mote está ausente há algum tempo. Será que refletiram?
Um caso típico de adequação ao mercado é o da marca Chevrolet. O mote é “Find new roads”, mas vi recentemente “Ache novos caminhos”, pode ter sido em alguma página do site da marca ou propaganda,
Outro exemplo de mote em língua estrangeira é o da Ford, “Go further” (Vá mais longe), mas na Argentina o mote foi traduzido para o espanhol (Vá más lejo).
E há o da Nissan, “Innovation that excites”, inovação que excita, verbo que tem uma vasta gama de significados nos dois idiomas, um deles desnecessário citar.
O advérbio ‘não’
Mudando de assunto, como sempre diz a Nora Gonzalez nas suas colunas, nos meus anos de GM aprendi algo de grande importância com o saudoso vice-presidente André Beer; evitar ao máximo o uso do advérbio ‘não’. Disse-me que é negativo, que sem ele a mensagem fica positiva. Desde então empenho-me ao máximo para seguir esse conselho — como no texto desta coluna com exceção deste parágrafo explicativo.
Montadora e bloco em lugar de motor
Essa dupla é de dar azia. A primeira é antiga, minha memória me leva ao começo dos anos 1980, quando comecei a ir às entrevistas coletivas da Anfavea. A segunda é relativamente nova, só comecei a vê-la de uns três anos para cá, embora pouco frequente.
‘Montadora’ está tão enraizada na mente das pessoas que hoje significa apenas fabricante de veículos automotores. Isso “por cortesia” da imprensa, dos próprios fabricantes, e até de gente da Anfavea.
Já contei aqui que em 2006 a Anfavea publicou uma edição especial comemorativa do cinquentenário da entidade. A edição destinava-se a outros mercados também e por isso foi bilíngue português-inglês. Como o foco da publicação era a indústria automobilística brasileira, o tradutor viu ‘montadora’ no texto final em português e, como bom tradutor, traduziu-a (pseudo) corretamente como ‘assembler’ em vez do correto ‘automaker’. Os estrangeiros que a leram devem ter ficado perplexos com o fato de o Brasil ter só montadoras, nada de fabricantes de automóveis…
A razão social da Caoa fabricante é “Caoa Montadora de Veículos S.A” e pouco tempo atrás vi numa peça de informação à imprensa da Hyundai “a fábrica da montadora em Piracicaba…”
Já vi muitos comentários no AE de que o brasileiro deveria ser estudado pela agência do governo federal dos Estados Unidos, a National Aeronautics and Space Administration, mais conhecia por Nasa — com toda razão!
Mas inacreditável mesmo é chamar motor de bloco. Conheci essa aberração no conhecido site francês Motorlegend e que lamentavelmente ganhou seguidores no Brasil. Já vi em texto aqui que dizia “um bloco de 2 litros de quatro cilindros turbo”. Se ainda existisse o programa de tevê “Acredite…se Quiser”, ancorado pelo saudoso Jack Palance (1919-2006), ele diria “O Brasil só monta automóveis em vez de fabricá-los. Acredite…se quiser”.
Até domingo que vem!
BS