Apesar da Mercedes-Benz estar acelerando a adoção da mobilidade elétrica, apostando cada vez mais na produção desses veículos, Ola Källenius, presidente executivo da Daimler, antecipou que a chegada dos modelos movidos a eletricidade irá provocar uma avalanche de desempregados. Källenius estima que 50% dos Mercedes serão 100% elétricos ou híbridos recarregáveis em 2025, ou seja, o dobro do que era previsto anteriormente. Cinco anos depois, no final da década, a totalidade será de elétricos.
De acordo com a publicação alemã Auto Motor und Sport, enquanto ele louva a aposta da sua Mercedes no caminho rumo à mobilidade mais sustentável, Källenius deixa um aviso no ar que criou algumas preocupações junto dos alemães, sejam os trabalhadores ou os sindicatos.
Anunciou que, por um lado, os investimentos da Mercedes serão realizados de forma a tornar esta transformação lucrativa (óbvio), e por outro, que a força de trabalho da marca será menor em 2030, ou seja, ocorrerão dispensas, não renovações de contratos ou aposentadorias antecipadas. Em termos práticos, mais desemprego…
A esta visão da Mercedes, a Volkswagen disse que estaria acontecendo algum exagero. Na sua resposta, o presidente executivo da Volkswagen AG, Herbert Diess, afirma que o seu grupo continuará a ser um fabricante de automóveis, apesar destes estarem evoluindo muito. Reforçou que para construir muitos carros, necessitarão de muitos empregados em 2030.
Diess admite, porém, que o tipo de especialização poderá mudar, com maiores necessidades em termos de software e outras áreas de inteligência artificial e tecnologia de informação. A indústria automobilística precisa de muito tempo para mudar, segundo ele, e cita como exemplo a Tesla, que está ativa depois de 15 anos de trabalho muito intenso.
“Se continuarmos a ter sucesso, poderemos salvar a maioria dos postos de trabalho, crescendo numas áreas e diminuindo em outras”, afirmou Diess, admitindo que cerca de “70% dos fornecedores atravessarão este período de transformação como se ele não tivesse existido”. Declarou que “se um motor requer uma hora para ser fabricado, um carro inteiro necessita entre 20 e 30 horas”, ou seja, o motor não é a parte mais relevante em termos de tempo e de mão-de-obra num veículo. Na foto de abertura, o Volkswagen Touareg R PHEV.
Fica implícito que, caso os fabricantes tradicionais, que sempre venderam modelos com motores a combustão, produzam tudo o que necessitam para montar automóveis elétricos, do carro em si aos motores, passando pelas baterias e pelo software, então é provável que o número de empregados seja potencialmente mais elevado do que o necessário para produzir os carros hoje tradicionais, a gasolina ou a diesel. E mais, serão empregados mais bem pagos, especialistas em software, em eletrônica ou em células de baterias, certamente com maior remuneração do que os atuais operários da linha de montagem, acabamentos ou mesmo na fabricação de peças, motores e caixas de câmbio.
Só o tempo dirá quem tem razão e como tudo isso vai se desenvolver, pois os questionamentos sobre a proibição às vendas de carros a combustão na Europa, a pressão por parte de alguns governantes e fabricantes para que os veículos híbridos possam continuar a ser vendidos, o que será feito com milhões de veículos que continuarão rodando ainda por algumas décadas consumindo combustíveis tradicionais, como será o abastecimento de energia elétrica para outros tantos milhões de veículos, como ficarão os produtores de gasolina e diesel, as pesquisas com combustíveis sintéticos, o desenvolvimento das células a combustível, tudo isso junto tem cheiro de uma enorme incógnita e, claro, jogo político e financeiro entre poderosíssimas indústrias e governos, numa previsível queda de braço. Quem viver verá…
AB