Resolvi rescrever esta coluna após interessante comentário recente do leitor Eduardo Cabral a respeito de como deve ser considerado o consumo de combustível, se quilômetros por litro (km/l) ou litros por 100 quilômetros (l/100 km.). Diz o Eduardo, com toda razão, que combustível consumido gasto por determinada distância é uma expressão verdadeira e que quilômetros percorridos com determinado volume de combustível não é consumo, Ele até sugere um nome:, rendimento.
A sugestão vai ao encontro da maneira como os americanos informam consumo: efficiency ou mais corretamente fuel effciency (eficiência de combustível, que se encaixa em rendimento de combustível).
O problema de l/100 km é, motoristas habituados ao nosso padrão terem dificuldade para interpretar l/100 km, como achar que quanto mais rápido dirigirem, mais economia, como ao alugar um carro na Europa.
Ou seja, com km/l, ‘9’ é maior consumo do que ’12’, enquanto com l/100 km ‘9’ é menor consumo do que ’12’.
Acho que todos concordam, eu inclusive, que consumo é volume por distância. Mas aí vem a pergunta: vale a pena mudar? A informação de consumo “errada” afeta de alguma maneira a vida do motorista? Prejudica-o na operação do seu veículo? A resposta é não.
Todos nós (e os americanos) sabem exatamente o que km/l (ou mpg, miles per gallon, milhas por galão) traduz, é a quantas anda o consumo do carro que estamos dirigindo. Sabemos o que significa por apenas uma razão: hábito.
Acostumamo-nos com grandezas e suas unidades. Se lhe disserem que tela do televisor é de 1.016 mm dificilmente você terá noção imediata de seu tamanho. Mas se for 40 polegadas você ¨sabe exatamente o que isso significa.
Mesma coisa torque. Engenheiros de motores sabem o que um torque de 350 N·m, significa, nós não, porque aprendemos que torque é “quilos” (nome correto e completo quilogramas-força·m, kgf·m).
Antes que surja a dúvida, no AE escrevemos metro·quilogramas-forca, m·kgf por uma razão: quando trabalhei na GM como gerente de imprensa (o Chico Lelis e eu fomos colegas), no primeiro material de imprensa que preparei escrevi a unidade de torque como kgf·m e mandei para a engenharia do produto aprovar. Não demorou para que um engenheiro me telefonasse para explicar que kgf·m era para torque de aperto e m·kgf era para torque de motor por convenção da GM apenas para diferenciar, pois kgf·m e m·kgf sendo produto sua ordem não o altera. Deste então e até hoje só uso m·kgf para torque de motor. E sempre poupamos o leitor ou leitora do trabalho de converter torque em N·m, como a maioria das fabricantes informa, para m·kgf (algumas, como a VW, dão números em ambas as unidades).
Qual o mais prático, km/l ou l/100 km?
Volume por distância domina no mundo. Europa, Ásia, China, Canadá, América do Sul (exceto Brasil), todos são l/100 km,. Nesses regiões, como aqui e nos EUA, todos os consumidores estão habituados com o formato de que dispõem. Além disso, todos os carros hoje permitem escolher a unidade no computador de bordo, simplificando a vida do usuário.
Essa simplificação é exemplificada, nosso caso, ao se ler 6 l/100 km no computador. O significa isso exatamente para nós? Sem fazer conta, nada (é 16,,7 km/l)
Quando colunista de Quatro Rodas de 2003 a 2007, um leitor me escreveu dizendo que seu carro só mostrava l/100 km no computador de bordo e pediu orientação. Rapidamente compilei uma planilha de conversão e lhe mandei, ficando bastante agradecido;
Em conclusão, mesmo não primando pela exatidão de informação em questão de conceito,, é melhor ficarmos com o velho “consumo” em km/l. Todo mundo sabe o que significa. Caso se leia l/100 km na internet é só dividir 100 pelos litros informados. para saber km/l; — sem estar dirigindo…
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.