Esta matéria foi concebida com a finalidade exclusiva de explicar ao leitor ou leitora do AE por que não utilizamos certos termos. Explica também o motivo de editarmos os comentários — tenho certeza de que muitos já notaram mudanças naquilo que escreveram — mas sem alterar o conteúdo.
Manual de redação
Em geral, as redações dos jornais e revistas têm seu manual de redação para dar diretrizes aos jornalistas sobre o que não escrever e também informar a grafia padrão de várias palavras a serem adotadas nos textos.
Aqui no AE, desde os nossos primórdios ainda em 2008, como blog, resolvemos adotar como padrão de redação o “Manual de Redação e Estilo” do jornal O Estado de S. Paulo por acreditarmos ser uma redação correta e, sobretudo, de fácil entendimento sem precisar apelar para o popular raso.
O Manual, por exemplo, é taxativo ao dizer que o verbo judiar, judiado e os substantivos judiação e judiaria não se usam jamais. Alguns leitores que escreveram comentário com a palavra judiado, referindo-se a um carro, devem ter notado que ela foi trocada por maltratado ou castigado.
Não temos manual de redação no AE, mas editores e colunistas recebem orientação do que não ou como escrever. Além disso, há um elenco de palavras, notações e abreviações banidas no AE. São elas:
A/C – é ar-condicionado sempre; nunca é abreviado, nem mesmo a palavra ‘ar’ isolada.
A/T e M/T – essa forma de abreviar câmbio automático e câmbio manual, respectivamente, trazida dos EUA (automatic transmission e manual transmission), não é usada no AE.
Abreviações – tão comuns na comunicação pela internet, Facebook, WhatsApp, abreviações de toda ordem como tbm, vc, pra, pro, prum (?), abs, INMO, e grafias estranhas como valew, eita, etc, não têm lugar nos nossos textos e são eliminadas ou alteradas nos comentários, como também acentuação faltante ou errada é sistematicamente corrigida.
Automotivo (a) – adjetivo que, apesar de reconhecido nos dicionários, soa mal ao ouvido por ser um falso cognato do inglês automotive, cuja tradução correta é automobilístico ou automotriz. Em eletrotécnica, por exemplo, se diz força eletromotriz, electromotive force em inglês, nunca força eletromotiva. Esta palavra é banida no AE.
Balanceiro – não é errado, mas preferimos balancim.
bhp – o mesmo que hp (ver adiante), só que mais completo, brake horsepower, potência ao freio (todo dinamômetro freia o motor em aceleração total para ler torque e dele se calcular a potência). O bhp é usado no Reino Unido.
Bloco do motor – depois de publicada a matéria o leitor Pedro Mazza sugeriu falar de bloco do motor. Essa peça é um dos principais elementos do motor, mas não é o próprio. Entretanto, vez por outra, vê-se textos por essa internet e revistas afora em que o autor utiliza a palavra bloco como se fosse motor, por exemplo, um bloco de quatro cilindros. Dessa o leitor do AE está livre.
Bolsa inflável – expressão usada sistematicamente no lugar de airbag.
Cavalos – maneira simplificada e apenas coloquial de exprimir a potência em cavalos-vapor. Em textos nunca é usado no AE, só nos vídeos.
cc – abreviação de centímetros cúbicos, em desuso. Hoje o correto é cm³, por isso é a forma que usamos.
CSS – sempre concessionária, nunca abreviamos.
cv – abreviação da unidade de potência cavalos-vapor. Quando em maiúsculas, CV, identifica potência fiscal, sistema adotado na França, que é calculado e serve para fins tributários. A unidade de potência pelo Sistema Internacional é o quilowatt (kW), mas optamos pelo cv por ser de mais fácil compreensão. A relação é kW x 1,3561 = cv. Somente como informação, o cv em alemão é Pferdestärken, PS, sendo em maiúsculas porque substantivos em alemão têm inicial maiúscula (Pferde e Stärken, cavalo e força);
Desenho – palavra autoexplicativa, substitui integralmente a queridíssima palavra design.
Deslocamento, deslocamento volumétrico – escrevemos cilindrada simplesmente, seguimos o francês cylindrée.
Direção elétrica – não existe o que tanto se lê e fala, direção elétrica — ainda. Toda direção continua mecânica. O que muda é assistência, que pode ser hidráulica, eletro-hidráulica ou elétrica. Para esta última descrevemo-la como eletroassistida.
Drive – nos câmbios automáticos, é a posição da alavanca seletora para o dirigir normal, a programação do câmbio se encarregando de fazer as trocas de marchas. Como não tem equivalente em português, usamos drive (drai’v) mesmo.
Eixo – só quando for para descrever uma peça em torna da qual algo gira, por exemplo, o eixo de uma roda dianteira não motriz. Quando uma peça transmite movimento ela é uma árvore. Portanto, nada de eixo comando de válvulas, mas árvore de comando de válvulas; nada de eixo de manivelas, mas árvore de manivelas.
Etanol – sabemos que é o nome oficial deste combustível desde 2009, mas como só temos álcool carburante do tipo etílico no Brasil, e tudo começou com o Proálcool (Programa Nacional do Álcool) há 42 anos, simplesmente nos recusamos a aderir ao novo nome por achá-lo uma invencionice sem sentido. Muitos se lembram do mote do começo dos anos 1980, “Carro a álcool, você ainda vai ter um.” Aqui no AE é só álcool.
Expressão adjetivada – quando um adjetivo numeral e um substantivo, como três e cilindros, quatro e portas, um e litro, se tornam expressão adjetivada, é preciso uni-los com hífen: um motor três-cilindros, um carro quatro-portas, um motor 1-litro. Se não se quiser usar hífen, há o recurso da preposição, nesse caso anulando a expressão adjetivada, mas mantendo o sentido: motor de três cilindros, carro de quatro portas, motor de 1 litro..
Fadiga – termo costumeiramente visto para verbalizar a perda de eficiência dos freios por superaquecimento, valendo-se de fading em inglês, que significa sumiço gradual, desvanecimento. Portanto, um falso cognato, já que fadiga em inglês é fatigue. É justamente o que acontece com os freios à medida que vão aquecendo em razão de uso intenso, em que a perda de eficiência é aos poucos, gradual. À falta de um termo equivalente em português, usamos a forma inglesa, fading (fêi’ding).
Faróis de longo alcance – são faróis auxiliares aos principais e se caracterizam por ter facho fechado e de grande alcance. São chamados comumente de “faróis de milha”, um termo ultrapassado e em desuso. Os faróis de longo alcance são o oposto dos de neblina, de pouco alcance e com facho bem aberto para se avistar as margens da via.
Gênero – no AE automóvel é sempre masculino. Feminino, só as peruas e as picapes. Por exemplo, o VW Brasília é um hatchback, portanto o Brasília.
Hatchback – descrição da língua inglesa que se tornou expressão adjetivada aglutinada e mantida original nos nossos textos à falta de equivalente em português. Significa traseira de alçapão em inglês. Os espanhóis chamam o hatch de portelón.
hp – é o símbolo da unidade de potência no Sistema Inglês de Medidas, o horsepower. A unidade de potência no Sistema Internacional é o watt (W), mas no caso de grandezas maiores como a potência dos motores foi adotado o quilowatt (kW). No AE nunca publicamos potência em kW, para isso sempre fazendo a conversão para cv multiplicando kW por 1,3561 para se ter cv (ou dividindo kW por 0,7355, dá no mesmo).
hp e cv – há pequena diferença entre hp e cv, 1,39% a favor de cv. Sempre que nos depararmos com potência em hp, com é usado nos EUA, tratamos de passar para cv (cv = hp x 1,0139). Só não é feita a conversão quando se trata de dados históricos, como explicado pelo Juvenal Jorge na sua recente matéria “Museu do Ar em Portugal”.
Interresfriador – é o nome, em português, de intercooler.
Kickdown – junto com fading, é das poucas palavras usadas no original no AE por não ter equivalente adequado em português. Seria algo como “chute para baixo” ou “movimento brusco do acelerador”. Optamos por kickdown ao falarmos de câmbios automáticos.
Litragem – o fato de se poder exprimir a cilindrada em litros não quer dizer que se possa dizer litragem. Por exemplo, cilindrada do motor é 2 litros.
Low – nos câmbios automáticos, posição da alavanca seletora que determina marchas mais curtas, especialmente para obter freio-motor. Também não tem equivalente em português, fica no inglês mesmo.
Medidas – todas em milímetros, exceto diâmetro mínimo de curva, dado em metros (m), diâmetro dos aros de roda e tamanho das telas dos sistemas multimídia, expressos em polegadas (pol. ou “)
Marchas – usamos no lugar de velocidades (formas inglesa, francesa e alemã), adotamos a forma italiana marcia (singular) e marce (plural).
Montadora – palavra banida do AE. Para nós permanece um mistério os brasileiros chamarem uma fabricante de automóveis de montadora. Nunca vi chamar de montadora uma fábrica de brinquedos ou uma fábrica de explosivos, por exemplo. Montadora só vale para automóveis, é incrível. O preço público sugerido sempre é do fabricante, nunca da montadora. Garantia sempre é de fábrica, jamais de montadora. E Anfavea é acrônimo de Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.
Multibraço – é quando uma suspensão independente possui três ou mais braços de suspensão ligando a manga de eixo à estrutura, sendo um ou mais superiores. O termo em inglês é multi-link, jamais usado no AE por ter equivalente em português.
N·m – símbolo da unidade de torque newton·metro. Embora seja esta a forma correta segundo o Sistema Internacional, escolhemos metro·quilograma-força (m·kgf). (ver ponto a meia altura) por estarmos mais habituados a ele. N·m dividido por 9,806 dá m·kgf.
Nota: sendo torque o produto de uma força por uma distância, o correto é no símbolo a força vir antes, kgf·m., mas por uma convenção informal na indústria inverte-se a ordem (que não altera o resultado, o produto) para distância antes, m·kgf. O motivo é diferenciar torque de motor de torque de aperto.
Nomes de cidades – não se abreviam, como RJ, SP, BH, etc. Só são admitidas abreviações quando esses nomes envolvem nomes religiosos, como São Bernardo do Campo, São José dos Campos, Nossa Senhora Aparecida, em que se pode escrever S. B. do Campo, S. J. dos Campos, N.S. Aparecida, etc., mas fica à discrição do editor.
Notação fracionária junto com por extenso em números inteiros – quando se tratar de número inteiro que exprima cilindrada, como 1 litro, 2 litros, jamais escrevemos 1,0 litro, 2,0 litros por o zero após a vírgula não ter significado, nem valor informativo. Sempre é 1 litro, 2 litros (ou 1-litro, 2-litros quando for expressão adjetivada).
Picape – no AE é utilizada a forma aportuguesada de pick-up, exceto quando se tratar de nome de modelo, como Kombi Pick-Up.
Plataforma – é o projeto de um modelo, que pode ou não ter derivados, não um chapão com quatro rodas, e para o usuário do veículo nada diz. No entanto virou palavra queridinha da maioria dos que escrevem sobre carros. Mas não é palavra banida do AE.
Ponto a meia altura – o · é notação matemática que indica multiplicação, por isso é usado quando a unidade representa uma multiplicação, caso do torque, uma força multiplicada por uma distância. Outro caso é em eletrotécnica, como quilowatts·hora (kW·h) e ampères·hora (A·h). O ponto a meia altura costuma ser desprezado na imprensa para simplificar, dado ser trabalhoso ou impossível escrevê-lo em certos editores de texto. No AE, entretanto, faz parte da nossa cultura.
Propulsor – palavra banida no AE. É amplamente usada pela imprensa automobilística como sinônimo de motor, no afã de evitar repetição de motor. No AE tal repetição, se necessário, é aplicada sem cerimônia.
Quilo – prefixo que significa 1000, como em quilogramas (kg, 1000 gramas) e em quilômetros (km, 1000 metros). Note que no símbolo o k é sempre minúsculo; é comum usá-lo maiúsculo. Erro crasso que você nunca verá no AE é dizer que um carro pesa tantos quilos. Só cabe em linguagem coloquial, como nos vídeos.
Recall – ainda é usado, mas estamos passando gradualmente para o termo correspondente em português, revocação.
Robotizado – é o câmbio manual quanto a construção, com engrenagens cilíndricas, que recebeu atuadores elétricos ou eletro-hidráulicos para movimentar as luvas sincrônicas de engate das marchas, como se tratassem de robôs. Uma variação desse tipo de câmbio é o de dupla embreagem, que pode ser entendido como duas caixas manuais numa só, cada uma com sua embreagem. Esses câmbios, tanto o de uma quanto o de duas embreagens, podem ser automatizados, ter as trocas feitas automaticamente. No AE são chamados de robotizados.
Rolagem – descreve a inclinação da carroceria nas curvas. É comum a imprensa automobilística usar o termo em inglês, rolling, sem nenhuma necessidade, o que nunca acontece no AE.
Sedã — automóvel cuja carroceria tem três volumes bem definidos: a seção frontal, a cabine dos ocupantes, e o porta-malas. É muito comum o uso da forma inglesa sedan, mas no AE nos atemos à grafia aportuguesada, sedã.
Separação parte inteira da fracionária – no AE não existe o ponto para separar parte inteira da fracionária, como é usado nos países de língua inglesa e praticamente por toda a imprensa brasileira. É e será sempre vírgula, motor 1,0, 2,5, etc. Motor 1.0, 2.5 no AE, nunca.
Test drive – expressão inglesa que significa experimentar um carro antes da compra, abandonada no AE em favor de teste de condução.
Transmissão – Este termo só é empregado no AE quando se referir à transmissão como sistema, que vai da embreagem, ou conversor de torque, ao câmbio, cardã ou árvore de transmissão, diferencial, semiárvores e rodas. Os americanos é que o usam para exprimir câmbio ou caixa de mudanças. No AE, câmbio, sempre.
Xenon – usamos a palavra em português, xenônio, um gás inerte usado em sistema de iluminação.
Esses são alguns exemplos de termos que usamos e que não usamos no AE. Há mais, que fica para outra oportunidade.
BS