Eu já comentei algumas vezes que usei um Vectra V-6 na GM e disse que falaria mais a respeito dessa experiência. Essa é toda a história..
Comecei a trabalhar na GM em maio de 1997 como gerente de relações com a imprensa. Na estrutura eram dois gerentes. Com a saída do Renato Luti, que foi para a Bolsa Valores de São Paulo, abriu-se uma vaga e fui contratado. O outro gerente, Chico Lelis, continuou.
O cargo dava direito a um carro designado, em regime de aluguel, 0,7% do preço público por mês. Quando se entra para uma empresa desse porte é normal passar um tempo até que todos os trâmites da contratação estejam concluídos. Na questão do carro, perguntaram se eu me incomodaria de usar provisoriamente Vectra CD 1996 da frota, portanto usado, o que de modo algum objetei, claro. Cerca de dez anos antes havia sido igual na Volkswagen.
Dali a um ou dois dias fui à oficina da fábrica retirar o carro. O mecânico-chefe, o Marcos (até hoje lá, só que chefe de oficina) me disse: “Que sorte a sua, pegar esse Vectra V-6.” Não acreditei que ia andar de Vectra V-6!.
Ele me explicou que aquele Vectra era de uso do presidente da GM do Brasil, o americano Mark Hogan, que recém havia sido repatriado — tanto que minha chegada à GM foi praticamente simultânea com a do novo presidente, Frederick “Fritz” Henderson. americano também. O carro era da cor do da foto de abertura, que é apenas ilustrativa. O Marcos me explicou também que o carro foi “feito”, e não produzido normalmente, colocaram-lhe um conjunto motriz V-6 e respectivo transeixo.
Eu já o conhecia o Mark Hogan desde que ele havia assumido o cargo em 1993, por ocasião dos eventos de lançamento. Muito simpático e cordial, autêntico “car guy”, logo nos entendemos bem. Num jantar algum tempo depois ele me contou, empolgado, que estava andando num Vectra V-6 manual (o Mark hoje está na diretoria mundial da Toyota, vejo-o sempre que vem ao Brasil)
Assim foi que comecei a andar no Vectra V-6. Eu já conhecia bem o Vectra desde o lançamento em 1996, em Paris. O Fernando Calmon, diretor de redação da Autoesporte, foi lá e contou que houve até uma apresentação e breve teste do V-6, num grande evento com toda a imprensa automobilística brasileira. Como eu era editor técnico e de testes da revista, estava familiarizado com o Vectra e seu motor 2-litros de 110 cv e 17,7 m·kgf (GLS) e 141 cv e 19,7 m·kgf (CD)., havia inclusive testado-os.
Outra dimensão
O leitor ou leitora pode imaginar a diferença que senti assim que comecei a andar com o “meu” carro da GM. Suavidade e berro de funcionamento eram notáveis. Parecia outra marca de carro. A maior cilindrada cuidava da elasticidade, que era excelente, complementada pelo motor girador, como me apraz.
O motor Ecotec X25E V-6 a 54º é de 2.498 cm³ (81,6 x 79,6) mm, duplo comando por correia dentada e 24 válvulas, entrega 170 cv a 5.800 rpm e 23,6 m·kgf a 3.200 rpm. A taxa de compressão é 10,8:1, o gerenciamento do motor é Bosch Motronic M 2.8.1 e o corte de rotação, a 6.600 rpm. Com peso em ordem de marcha de 1.370 kg, a relação peso-potência é 8 kg/cv., já bem interessante.
Aceleração 0-100 km/h em 8,5 segundos e velocidade máxima de 230 km/h são números que entusiasmam, principalmente comparando-os com o Vectra que tínhamos aqui.
Ótimo escalonamento, evidenciado pela quedas de rotação cada vez menores, como deve ser, para cada vez mais potência para vencer o ar à frente. O alcance das marchas, a .6.000 rpm, é (km/h): 1ª 51; 2ª 98; 3ª 154; 4ª 193; e 5ª 230 (a 6.180 rpm)
O câmbio era o Opel F-23 WR (wide ratio, marchas espaçadas) de 5 marchas, com a particularidade de ter o padrão do “H” diferente dos F-17 e F-13: a ré era sob a quinta e não “perna de cachorro” junto da primeira. Por isso eu tinha a preocupação e o cuidado de avisar aos manobristas que naquele Vectra a ré ficava em lugar diferente dos demais. Passados 23 anos a memória não me dá certeza, mas acho que a ré já era sincronizada.
Tudo isso num carro com suspensão dianteira McPherson e traseira multibraço, e freios a disco nas quatro rodas, mais um porta-malas de 500 litros e Cx 0,30, com tanque de 60 litros. Se fabricado hoje faria bonito ante a concorrência. Mesmo que os “especialistas” da internet malhassem-no dizendo “Ah, mas a plataforma é antiga””…
O leitor ou leitora provavelmente estará se perguntando se eu não preferiria ficar com o V-6 mais tempo: com total certeza que sim. Pedi, mas não puderam me atender: além de ser fora dos procedimentos um gerente alugar um carro usado — quanto mais um carro fora de padrão —, o V-6 tinha problema de Renavam que não sei como foi resolvido.
Mas seu fosse continuar com ele certamente tomaria duas providências. Uma, daria um jeito de acertar a pedaleira, o punta-tacco do Vectra era muito ruim, tipo a do up!.. Outra, tentar conseguir na engenharia os espelhos do Vectra alemão, que eram asférico, biconvexos. No Vectra brasileiro, Custo, o Fantasminha andou aprontando e os espelhos era apenas convexos normais, de área pequena para as carcaça. A retrovisão lateral não era boa.
BS