Aqui na coluna “Falando de Fusca & Afins” já falei sobre a categoria Speed 1600 na matéria “O VW Fusca e como nós o pilotamos em competições“, publicada em março de 2021. Entretanto, acredito que há muito espaço para falar sobre este apaixonante assunto e, com isso, a pesquisa continuou.
Assim, apresento dois materiais sobre a Speed 1600, o primeiro nesta edição, ficando o segundo na próxima, O primeiro material é de Jason “Dê” Machado, um colecionador de miniaturas e possuidor de vasto arquivo de histórias. Ele foi publicado na edição de outubro de 2022 da Revista Cultura do Automóvel, de Gabriel Marazzi:
Um olhar para dentro da Speed 1600
Por Jason “Dê” Machado
“O ano era 1990, eu com apenas 14 anos de idade. Fui ao Autódromo de Interlagos para acompanhar de perto a primeira etapa do campeonato paulista de automobilismo que, segundo eu havia sido informado pela administração do autódromo, reabriria para as temporadas das categorias Fórmula 1600 e Fórmula Super 1600, ambas pertencentes à Escola de Pilotagem Alpie, competições de monopostos que mais tarde deram lugar à de carros de turismo, chamadas de Super Stock e Speed 1600. Esta seria a primeira corrida no novo traçado de Interlagos, encurtado de 7,960 km para 4,309 km.
Ansiosíssimo para acompanhar as corridas, e ainda sem saber o que era exatamente tudo aquilo, cheguei ao autódromo no sábado bem cedo, com tempo para ver os carros chegando, com as equipes montando seus aparatos e preparando seus equipamentos para o início dos treinos e das corridas. Assim que a pista foi liberada, os carros começaram entrar na pista e eu, maravilhado, os acompanhava até onde dava, até vê-los rasgando a reta dos boxes, que em 2010 foi oficialmente nomeada ‘Reta de Chegada Emerson Fittipaldi’. Os carros eram Ford — Escort, Mustang, e Maverick —, VW Passat, Chevrolet Opala e os mais legais, os VW Fuscas da categoria Speed 1600.
Muitos, das mais variadas cores, que passavam naquela reta um mais rápido que o outro, alguns mais lentos, mas sempre iam colados uns nos outros, parecendo que estavam correndo em fila.
Na foto de abertura mais um exemplo de ‘fila’ de VW Fuscas, vemos, partindo do primeiro na fila: Batistinha, Wessler, Nilson Vicentini, Marzola e Morgillo, em foto de 1990.
Para conhecermos melhor a categoria Speed 1600, voltemos no tempo até 1984, quando o presidente da então Federação Paulista de Automobilismo (FPA, hoje Federação de Automobilismo de São Paulo, Fasp), Orlando Casanova, resolveu criar outra categoria barata e de fácil acesso a todos os bolsos, como ele já havia feito alguns anos antes com a Turismo 5000.
Como o VW Fusca era um carro bastante popular e, já naquela época, havia se consagrado nas pistas pela participação na categoria Divisão 3, entre outras, essa foi a sua escolha. O fato de alguns pilotos famosos terem utilizado o VW Fusca no início de suas carreiras, como, por exemplo, os irmãos Fittipaldi, Ingo Hoffmann ou José Carlos Pace, também ajudou a nova categoria a começar com um bom currículo.
Mauricio Seraphin foi o primeiro piloto a entrar para a categoria.
Em um bate-papo com ele, sobre a razão de seu interesse pela nova categoria, ele me disse que já tinha comprado um VW Passat para correr, mas, quando foi na sede da FPA pegar o regulamento daquela categoria, soube da criação da Speed 1600. Foi, então, que ele trocou o Passat pelo VW Fusca de um amigo e aí começou a montagem do novo carro. E ainda chamou seu amigo Ibsen Lagrota para também entrar na ‘brincadeira’ — chamar os amigos para a categoria era algo bastante comum.
Outro piloto importante para o início da Speed 1600 foi Waldir Del Greco, que era piloto de testes da Volkswagen e ia para pista com um VW Fusca Speed 1600 montado na própria fábrica. Mas infelizmente não pôde aproveitar a nova categoria: correndo de Passat, também da fábrica, numa prova do campeonato paulista em 1984 perdeu a vida num acidente na Curva Dois na segunda volta.
Em pouco tempo, a Speed 1600 ganhou cada vez mais participantes, como a Equipe Wessler, que conquistou os quatro primeiros títulos da categoria com o piloto José Geraldo Kawabe.
A cada ano, a Speed 1600 foi se destacando cada vez mais dentro do circuito paulista e, a cada etapa, notava-se o aumento no número de carros e participantes, transformando as corridas em verdadeiros shows.
Era a categoria que fechava os domingos em Interlagos e, em relação a isso, a explicação — que alguns não admitem —– era a de que os motores dos VW Fuscas espalhavam muito óleo na pista deixando-a impraticável para outras corridas. Ninguém queria correr depois dos VW Fuscas e, verdade ou não, a quantidade absurda de participantes colaborava para que isso acontecesse.
Voltando a 1990, os grids cresciam a cada etapa, a categoria chegando a disputar algumas provas com mais de 60 carros na pista. Houve vezes em que os colchetes de demarcação de posições de largada, que eram pintados no asfalto, não eram suficientes, tendo os fiscais de pista que improvisar a arrumação do grid até quase a Curva do Café.
Na segunda etapa desse mesmo ano, eu tive a oportunidade de estar nos boxes, acompanhando de perto pilotos, carros e equipes, em especial os pilotos Danilo Sguario, de número 28, e, mais tarde, seu amigo José Teixeira, que ele tinha levado para a pista.
Grande parte do sucesso da Speed 1600 foi devido, logicamente, ao baixo custo na preparação e na participação no campeonato, quando comparado às demais categorias, além, é claro, da facilidade que se tinha em encontrar peças de reposição.
O forte apelo emocional do VW Fusca, que era o carro querido do povo, também ajudou na popularidade da categoria. Mas sempre foi muito fácil de notar para quem, como eu, acompanhou de perto as várias fases da Speed 1600, a grande felicidade dos pilotos ao final de cada prova, como se eles todos — e eram muitos — fizessem parte de uma grande família”.
Pesquisando sobre o assunto eu encontrei a publicação no blog “História que vivemos”, de Rui Amaral Jr. de um interessante material do piloto Pedro Garrafa contando como ele tinha feito o seu Speed 1600, postada em março de 2011. O Pedro foi além e comentou sobre alguns truques que alguns mecânicos lançaram mão para burlar o severo regulamento técnico da categoria.
Este material será publicado na Parte 2 desta matéria
AG
Agradeço ao Gabriel Marazzi e ao Jason “Dê” Machado pela permissão de uso do material originalmente publicado no exemplar de outubro de 2022 da Revista Cultura do Automóvel . Com isto fechamos a Parte 1 desta matéria.
Para a Parte 2 já entrei em contato com o Rui Amaral Jr. esclarecendo a solicitação de permissão para uso do material do Pedro Garrafa, que é muito interessante. E já recebi a permissão para usar este material, luz verde para a Parte 2.
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