Com a elevação dos preços dos combustíveis em consequência da primeira crise do petróleo em 1973 e das medidas de restrição ao seu consumo impostas pelo governo em 1976, entra as quais a proibição de venda de combustíveis das 20h00 às 6h00 nos dias úteis e nos fins de semana, o consumo dos veículos se tornou de vital importância.
As fábricas que, antes, se preocupavam mais com o desempenho dos veículos, passaram a se dedicar à redução do consumo de combustível, o que acabou se transformando num importante item mercadológico.
Além do trabalho para redução de consumo, algumas empresas aumentaram a capacidade dos tanques para proporcionar maior alcance aos veículos. As engenharias das fabricantes ganharam destaque pelos projetos que desenvolviam para tornar os carros mais econômicos e assim poderem rodar mais sem necessidade de reabastecer.
Com a dedicação à economia de combustível, as fábricas passaram a realizar programas de viagens longas às quais deram a denominação de reides, com o acompanhamento de engenheiros que faziam reuniões com jornalistas aos quais transmitiam a importância de aperfeiçoar a forma de condução dos veículos com valorização para a economia e também para a segurança.
Nesse empenho os engenheiros de algumas fabricantes passaram a adotar outra forma de aferir o consumo de combustível que conheci em meados da década de 1980, pelo peso do combustível em vez de pelo volume. Isso aconteceu num evento promovido pela Fiat.
O uso do peso do combustível para essa finalidade e não do seu volume é possível porque cada combustível tem uma determinada densidade. Por exemplo, a nossa gasolina tem a menor densidade dos combustíveis disponíveis nos postos atualmente. Sua densidade é de 715 a 770 gramas por litro (g/L).
Já o álcool tem densidade de cerca de 798 g/L e o diesel, entre 820 e 865 g/L. Para nós, simples usuários não muda nada, pois pagamos por litro e no final a medição é em quilômetros por litro. (km/L).
Ressalve-se que na maior parte dos países, sul-americanos inclusive, a medição é em volume consumido por 100 quilômetros (L/100 km), o que dá ideia exata de consumo, enquanto no nosso (e nos EUA) é quilometragem (mileage lá).
Mas independente da forma de exprimir o consumo, para os engenheiros a precisão é primordial. Então, utilizando o peso podia-se comparar melhor o desempenho energético.
Como a gasolina é mais “leve”, em 10 kg são cerca de 14 litros, enquanto 10 kg de diesel são 12,2 litros.
Lembro de testes, com carros e caminhões, nos quais acompanhava o engenheiro José Fernando Leite de Campos, um dos responsáveis pelos trabalhos realizados no Campo de Provas da Ford, em Tatuí, no interior de São Paulo.
Naquela época não havia injeção eletrônica e nem sistemas eletrônicos como se tem hoje em qualquer veículo. Nem o flow meter (medidor de fluxo como o da foto), instrumento que facilita a vida dos engenheiros, pilotos e funcionários responsáveis por testes com maiores precisão e rapidez para registrar os resultados. Esse flow meter utiliza um medidor de vazão ultrassônico que consegue mensurar a velocidade de passagem de um fluido (combustível) dentro de um conduto fechado e calcular a vazão do sistema de transmissão desse fluido, inclusive entradas e saídas.
À falta de um medidor de vazão, para se ter maior precisão, os engenheiros utilizavam o método do peso do combustível gasto para medir o consumo.
Esse método exigia a retirada do tanque do veículo, o seu total abastecimento e durante o percurso os reabastecimentos necessários, até o final da viagem, quando o tanque era novamente retirado para o reabastecimento final.
José Fernando, com 40 anos de trabalho como engenheiro e 33 anos funcionário da Ford, explicou que a providência mais importante era a instalação das mangueiras e linhas de combustível de maior comprimento para permitir que o tanque fosse “baixado”, que é a sua retirada do veículo para o abastecimento completo, pesagem e novamente instalado sem o risco de serem desligadas ou desacopladas pelas irregularidades e má conservação dos pisos dos roteiros
No final do percurso, os tanques dos veículos eram novamente “baixados” e pesados com o registro dos pesos do combustível consumido por cada veículo.
Para se obter o valor de consumo de cada veículo era feita a divisão do peso do combustível consumido pela sua densidade.
Para melhor esclarecer, usou como exemplo o teste feito em caminhões e o consumo de 20 kg de diesel para percorrer 73 quilômetros. Por ter densidade de 0,853 kg/L, 20 kg de diesel representam 23,45 litros, cujo resultado foi de 3,11 km/L.
LCS
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