Era uma reta curta antes da próxima curva, pé no acelerador “de leve”, os 40,8 m·kgf de torque (e até 180 cv de potência do motor turbodiesel de 2,2-L, 4 cilindros em linha, longitudinal) levam a picape mais adiante com certo empenho, Chega então a curva, que contorno com facilidade, apesar de ainda sentir a direção com assistência hidráulica um tanto “pesada”.
Mas com a segurança de ter a tração 4×4 do tipo temporária ligada, após acionar o comando eletrônico giratório no console central, sinto uma leve, porém esperada, sacudida na suspensão traseira de eixo rígido com molas semielípticas ao sair da curva. Um pouco à frente, repentinamente piso no freio que, ao responder prontamente com o sistema formado por discos na dianteira e tambores, na traseira, e ABS, segura os 2.097 kg de peso em ordem de marcha desse recente lançamento da Fiat, mesmo que os pneus 265/65 R17 não sejam os mais adequados para aquele trecho em piso de terra levemente úmido, com a chuva que acabava de cair.
Ainda assim, passo um pouco do ponto, aciono a ré no câmbio automático epicíclico de 6 marchas, analiso o entorno com o sistema de câmeras e linhas dinâmicas na tela de 10” do sistema de infotenimento e já avisto a placa que acabei de deixei passar, mais uma das tantas que encontrei, com informações do trecho do percurso que estava por começar, e quase todas fotografei percorrendo o “Caminho pro Interior”, rota que escolhi para conhecer e avaliar a Titano durante três dias.

A Fiat entrou bem recentemente no mercado de picapes médias, liderado pela Toyota com a Hilux e disputado ainda pela Ford Ranger, Nissan Frontier, VW Amarok, Chevrolet S10, Mitsubishi Triton e, recentemente, chegaram ao mercado a JAC Hunter e a BYD Shark — híbrida (a ordem descrita é totalmente aleatória e não segue nenhum critério). Uau! Mercado disputado, hein! E, talvez, ainda pudesse inserir nesse segmento o Jeep Gladiator que, embora pouco maior do que as listadas e movido por um motor a gasolina (todas as anteriores com motores a diesel, exceto a BYD Shark), acaba sendo menor que as picapes grandes como Ram 1500, Ford F-150 e Chevrolet Silverado (todas essas com grandes motores a gasolina).
Embora a Fiat lidere o mercado de picapes compactas, com a Strada e a Toro, disputar esse mercado das médias com tantos competidores não é e não será tarefa fácil, nem simples. Ainda mais com as características renovadas de algumas delas e, não custa frisar, a Titano ter o motor com menor potência (180 cv) entre as concorrentes (poder-se-ia aqui considerar versões da Ford Ranger com motor de 4 cilindros e 170 cv para deixar a Titano mais bem posicionada).
Mas, certamente, o posicionamento de preços entre os modelos e as versões é que irão determinar a participação e a possibilidade de sucesso de mercado. E esse posicionamento, pelo menos no início e por enquanto, a mantém em vantagem competitiva na disputa por custo-benefício, o que pode permitir a conquista de parcela desse mercado. A ver e confirmar no decorrer do tempo.
Aqui no AE a Fiat Titano já foi alvo de duas matérias, a primeira no lançamento que foi escrita pelo Wagner Gonzalez em abril de 2024, e, mais recentemente, em setembro de 2024, um teste “no uso” feito pelo Gerson Borini.
Então, como as matérias acima são ótimas e bastante completas, não vou me ater aqui em descrever todos os detalhes técnicos e de conteúdo, o que já foi muito bem-feito por eles. Vou seguir com minhas impressões e focar nas características em uso off-road, apesar de vez ou outra ampliar essa visão e considerações durante o texto.
Sobre o contexto
Preciso deixar bem claro que sou usuário frequente de picapes e, além disso, já consegui testar e avaliar quase todas do mercado. E muito recentemente, fiz uma avaliação (não publicada aqui) da Ford Ranger Black, que tem, justamente, o motor 4-cilindros e 170 cv citado acima. E, também bemrecentemente, fiz uma longa viagem com um Jeep Gladiator (mais de 8.000km). Conto isso para deixar claro que as referências das outras picapes estão ainda bastante “frescas” e, certamente, essas referências pesarão em certas análises e impressões.
Sobre o roteiro de avaliação – Caminho pro Interior
Quando surgiu a oportunidade de, finalmente, fazer uma boa avaliação com a Fiat Titano, logo pensei que o ideal seria um roteiro longo, com uma boa distância percorrida e com predominância em off-road leve, ou seja, o que se imagina seja o uso mais típico e comum desse carro.
Foi com essa premissa que pensei no “Caminho pro Interior”, que é um roteiro pensado para peregrinação e contemplação, mas que pode e deve, ser percorrido com um automóvel de qualquer tipo como um carro de passeio comum e com tração 4×2 (sim, você pode considerar esse cenário para quase todo o trajeto, com exceção do trecho entre Lindoia e Águas de Lindoia que deve ser percorrido exclusivamente por carros 4×4 e com capacidade razoável de transpor obstáculos), com o devido cuidado e atenção em dias de tempo chuvoso, onde a aderência em “estradas de chão” fica comprometida..
Mais abaixo, nesse próprio texto, passo características dicas e informações sobre o roteiro do “Caminho pro Interior”.
E começa a viagem com a Fiat Titano Volcano
Partindo de São Paulo, meu primeiro destino era Amparo, a 133 km da Capital. Já acomodado depois de ajustar bancos e volante, que são todos “mecânicos” na versão Volcano, que foi a determinada para essa avaliação, celular pareado e conectado por cabo à central de infotenimento com tela de 10” (única forma de usar Android Autp e Apple CarPlay), comecei a rodar os primeiros quilômetros e, logo de início, a suspensão já me causou estranheza.
Li e assisti a vários relatos e matérias no lançamento da Titano, e muitos foram os jornalistas que teceram críticas à “dureza” da suspensão, especialmente a traseira, que é por feixes de molas semielípticas como quase todas as picapes atuais do mercado, com algumas poucas exceções. E vou me juntar a eles, pois, de fato, talvez esse seja o grande “pecado” dessa picape, pois, além de não trazer conforto, como veremos à frente, essa suspensão também causa dificuldade em trafegar em off-road, principalmente em terrenos mais acidentados e com velocidades medianas.
E não se trata apenas da “dureza” da suspensão traseira, pois, há algo indesejável nas oscilações das suspensões como um todo e na grande diferença que a suspensão dianteira — independente com braços triangulares superpostos com mola helicoidal — tem em relação à traseira, causando aquela sensação de que em muitos momentos, simplesmente, elas “não conversam”, causando uma espécie de estranhamento e, de certa forma, uma “imprevisibilidade” no comportamento esperado nas diferentes situações que as suspensões enfrentam.
O desempenho em rodovia foi bastante aceitável e correto, não causou aquele incômodo típico dos carros com pouca potência, até pelo contrário, e com o câmbio de 6 marchas bem acertado — conta com opção de trocas manuais pela alavanca seletora —, permitiu uma viagem tranquila e, ainda por cima, razoavelmente econômica, pois, cheguei a Amparo com média de consumo de diesel superior a 12 km/l (números oficiais de consumo pelo Inmetro: 8,6 km/l em ciclo urbano e 9,3 km/l em ciclo rodoviário).

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A primeira parada foi na praça da Igreja Matriz de Amparo, que é o marco ZERO do “Caminho pro Interior”. Cheguei após retirar minha credencial — que não é obrigatória, veja mais sobre isso mais abaixo — e logo parti para começar os 537 km que ainda me aguardavam até retornar dois dias depois, nessa mesma praça para “encerrar” todo o roteiro e trajeto.
Em poucos quilômetros à frente eu já iniciava em piso de terra, a caminho de Mostardas, que é um Distrito de Monte Alegre do Sul. Os primeiros quilômetros em “estrada de chão” serviram para confirmar duas impressões: a suspensão traseira tenderia a ser um “desconforto” ao longo de toda a avaliação e o desempenho da Titano seria um ponto a favor, tanto pela boa disponibilidade de torque do motor (máximo de 40,8 m·kgf a meras 2.000 rpm e por isso farta potência em baixas rotações) como pelo bom acerto do câmbio.
Logo me veio a vontade de reduzir a pressão dos pneus, como é tão comum em situação off-road e, no entanto, muitas vezes evitamos “murchá-los” por dois motivos: não precisar recalibrar constantemente quando o trajeto alterna entre on-road e off-road com frequência, que seria o caso, e, também, entender o comportamento do carro nos diversos tipos de terreno com a calibragem recomendada pelo fabricante. Então, assim mantive (após conferir, logo na retirada do carro) a pressão de 29 lb/pol² nas quatro rodas, recomendada pelo fabricante para carga leve.

Em certos momentos, ainda no primeiro dia, apesar de trafegar por caminhos bons, optei por acionar a tração 4×4 que é do tipo “temporária”, ou seja, não possui um diferencial central para permitir rotações diferentes entre o eixo traseiro (eixo de tração primordial quando em 4×2) e eixo dianteiro, o que não permite e não é recomendável, por exemplo, contornar curvas mais fechadas e manobras em piso com boa aderência e utilizando a tração 4×4. O acionamento é do tipo eletrônico por seletor no console central (opções 2H para 4×2, 4H para 4×4 em modo alto e 4L para 4×4 com reduzida) e atua muito bem e rapidamente, não tendo falhado nem demorado em excesso em nenhuma situação, incluindo o acionamento da reduzida (que exige que o câmbio seja colocado em “Neutro” para completar a operação. O seletor necessitar ser pressionado para permitir ir para a posição 4L, que costuma ser uma “trava de segurança” comum em todos os carros da categoria, cada qual com seu sistema e peculiaridade de uso no seletor ou alavanca).

Logo, e ainda sem que fosse efetivamente necessário, acionei a reduzida (modo 4L) e já foi possível perceber que, sim, a Titano tem bastante força, já que a redução é de 2,72:1, o que permite bom controle e ação em situação off-road mais crítica, como a que encarei entre Lindoia e Águas de Lindoia, único trecho que é indicado apenas para veículos 4×4, justamente por haver grandes inclinações, algumas erosões fundas e, portanto, trechos mais travados. Foi agradável constatar que a Titano possui indicação tanto para 4H como para 4L no painel de instrumentos, o que traz mais controle para o condutor — embora, claro, é sempre bastante fácil perceber que o carro está em modo “reduzido”, mas é muito bom ter uma luz-espia de indicação.
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E foi ainda nesse trecho que também me veio uma outra preocupação: eu já havia vistoriado e notei que a Titano, assim como várias outras picapes do mercado, não tem um ponto de ancoragem traseiro, onde se pode atar uma cinta de reboque para que, no caso de atolamento ou dificuldade, algum outro carro possa “ajudar”. Por mais que isso possa parecer estranho — e até mesmo absurdo — o fato é que não são poucas as picapes que, simplesmente, não possuem esse recurso, embora a maioria, assim como a Titano, tenha esse dispositivo na dianteira – no caso da Titano, são dois dianteiros e fixados na longarina do chassis.
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Esse trecho entre Lindoia e Águas de Lindoia, digamos, um tanto mais complicado, me permitiu experimentar — e efetivamente usar – o sistema HDC (Hill Descent Control – Controle de Descida) da Titano que, muito embora tenha atuado perfeitamente, ao não ter possibilidade de ajuste de velocidade e ter por padrão uma velocidade mínima um pouco mais elevada —– que apurei ser em torno de 8 ou 9 km/h —, acaba não sendo o mais adequado para trechos off-road mais travados, onde, então, você também precisa “complementar” a moderação da velocidade com os freios, como acabei fazendo nessa descida do vídeo a seguir, com inclinação lateral e frontal, que acabei tendo que encarar para “desviar” de erosões mais profundas que acometiam o caminho “principal”. Ajudou bastante que a Titano tenha boa geometria off-road, com 29º de ângulo de entrada, 27º de ângulo de saída e 235mm de vão livre ao solo, que mesmo com um entre-eixos de 3.180 mm numa picape de 5.330 mm de comprimento total e 1.963 mm de largura, permitiu boa desenvoltura nesse obstáculo, assim como em outros mais desafiadores.
Vídeo
Assista ao breve vídeo que mostra bem a situação em que foi importante utilizar o controle de descida (HDC, Hill Descent Control) da Fiat Titano:
Edição do vídeo: Márcio Salvo
O curso de suspensão traseira da Titano é bastante generoso, o que permite que as rodas mantenham contato com o solo por bastante tempo. Na dianteira, como é comum e, principalmente, nos sistemas de suspensão independente, o curso é menor. Ainda assim, ambos adequados para a categoria e tipo de uso. Mas, é fato que, por vezes, algumas das rodas podem perder aderência, como é comum em off-road mais intenso. Passei por uma única situação assim. Nesses casos, o sistema de controle de tração (aliado ao de estabilidade), e, principalmente, quando o carro entende estar em modo 4×4, transfere força entre a roda com menor aderência (que pelo efeito mecânico do diferencial tende a receber mais força – o que não é adequado para o off-road) para a roda com maior aderência, atuando no freio da roda sem aderência e, então, “forçando” essa transferência. Esse é um recurso que é amplamente utilizado na indústria e, salvo engano, está presente em todas as concorrentes diretas. O que acaba, então, diferindo entre as diferentes fabricantes e modelos é o que se chama de “calibração”, ou seja, os parâmetros com os quais o sistema atua e como, na prática, essa transferência acontece. E, bastante infelizmente, preciso ser justo ao citar que a calibração da Titano não é das melhores e “deixou a desejar”. Foi assim nesse teste. Mas, já havia tido a oportunidade de testar esse recurso numa pista de obstáculos off-road, onde num determinado exercício, a Titano não conseguiu vencer o obstáculo apenas com o controle de tração e precisou do bloqueio do diferencial traseiro. Logo a seguir, no mesmo dia e na mesma pista, um FIAT Toro passou sem maior dificuldade pelo mesmo obstáculo apenas com a atuação do controle de tração – até porque, a Toro não tem bloqueio do diferencial traseiro. Então, certamente, esse é um ponto a melhorar assim que possível.

Outro recurso que equipa a Fiat Titano para uso em off-road, é o bloqueio do diferencial traseiro que, quando acionado, transmite a mesma força e rotação para ambas as rodas traseiras, trazendo mais aderência e, portanto, capacidade de vencer obstáculos. Embora seja um recurso pensado para off-road, gostei de saber que a Titano – diferente de algumas outras picapes do segmento – permite o acionamento do bloqueio mesmo com tração 4×2 — e, claro, também em 4H e 4L —, o que pode ser interessante em certas situações. Uma vez acionado, por medida de segurança e proteção do sistema mecânico, ele é automaticamente desacoplado ao se alcançar 30km/h, estando em qualquer um dos modos de tração.
O acionamento do bloqueio do diferencial traseiro, bem como outras teclas para acionar o HDC, desligar o controle de estabilidade, acionar o sistema de câmeras e outros, está no console central, logo abaixo do ajuste do sistema de ar-condicionado, que por sua vez está abaixo da tela do sistema de infotenimento.

No segundo dia, após ter terminado o dia anterior relativamente cansado, optei por reduzir a pressão dos pneus da Titano em 5psi em todas as quatro rodas. E posso assegurar que, como esperado, melhorou sensivelmente. Mas, não “resolveu” o comportamento da suspensão traseira. A ficha técnica indica que as molas traseiras têm “dupla flexibilidade”, o que indica que é de se esperar um estágio inicial mais macio e mais rígido quando com mais carga. Então, definitivamente, é algo a rever na calibração da suspensão traseira. Mas, aqui estamos falando de conforto e comportamento dinâmico. Tenho a certeza de que, devidamente carregada sua caçamba, a realidade seria outra. Mas, enfim.
Reduzir a pressão dos pneus ajudou bastante os “solavancos” da suspensão. Mas, trouxe um outro efeito colateral que, embora esperado, se mostrou mais intenso do que eu previa: a direção com assistência hidráulica ficou ainda mais pesada, gerando também um esforço extra e além do necessário, principalmente, quando comparado com outras picapes. Mas, para ser justo, não é algo ruim, apenas está num padrão inferior ao que vimos em outras picapes do segmento, algumas das quais já contam com sistema de assistência elétrica – e acho importante descrever isso para quem estiver lendo.
Essa redução da pressão dos pneus mantive até finalizar o roteiro do “Caminho pro Interior”, já no terceiro dia de viagem, e mais alguns quilômetros de rodovia à frente, pois, como estava chovendo, a menor pressão aumentava a área de contato do pneu com o asfalto molhado e, andando em baixa velocidade como a situação exigia, não havia riscos exagerados. Mas, recalibrei assim que a chuva passou.
IMPORTANTE: reduzir a pressão dos pneus é prática comum no uso em off-road e, de certa forma, até desejado por trazer dois efeitos principais (entre outros):
– aumentar a área de contato dos pneus com o solo, o que aumenta a aderência e tração;
– reduz os impactos da suspensão e os que são transmitidos ao habitáculo, trazendo mais conforto para os ocupantes num piso que é muito mais acidentado.
Porém, é regra ao fazer isso que, ao retornar para trechos pavimentados e, principalmente, rodovias, a pressão recomendada pelo fabricante seja restabelecida, para aumentar a segurança e diminuir consumo de combustível e emissões.
Ao final do terceiro dia, depois de 723 km desde minha partida em São Paulo, sendo 568 km desses apenas no roteiro, terminei minha “peregrinação” automobilística/picapeira pelo “Caminho do Interior”, feliz de ter conhecido mais alguns novos caminhos e lugares, de ter tido a Fiat Titano como parceira dessa aventura e, agora, orgulhoso por ter contado a você como foi tudo isso. Minha média “geral” de consumo foi de 8,7 km/l indicados pelo computador de bordo, desde o momento que peguei o carro em São Paulo e percorri 133 km até chegar a Amparo para iniciar o roteiro.
Ainda me restava um belo trajeto para retornar, mas a verdade é que de lá eu parti para outros destinos e não retornei imediatamente para São Paulo. Ao final, depois de alguns dias mais, eu havia rodado um total de 2.038 km com a Fiat Titano até devolvê-la — e, inegavelmente, foi uma boa companheira de viagem por aí.



O palco: “Caminho pro Interior”
Esse roteiro foi desenhado e criado pela AACPI – Associação dos Amigos do Caminho pro Interior, entidade sem fins lucrativos com sede em Amparo e que, segundo o site deles, foi criado por quatro mulheres que atuam na região, sendo Kate Jeremias a idealizadora, que inspirou-se no Caminho de Santiago de Compostela para seguir com a ideia, após ela própria percorrer o Caminho da Fé (escrevi sobre esse roteiro quando andei nele com a Ram 1500 Rebel, que você pode ler.
Diferente do “Caminho da Fé”, o “Caminho pro Interior” tem formato “circular”, de forma que você inicia o roteiro em Amparo e, ao finalizar, acabou por retornar a Amparo, como eu acabei fazendo também. São 537 km de roteiro oficial, para os quais eu acabei rodando por 568 km, devido aos desvios, sair da rota para dormir em alguma pousada, etc. Mas, como o roteiro é pensado para quem vai peregrinar, ou seja, caminhar, todo o roteiro é desenhado para você ter opções de apoio e suporte durante o trajeto. No site deles é possível ver a caraterística de cada trecho, indicações de onde dormir e outras informações;
A sequência do Caminho pro Interior, que passa por 20 municípios e mais 5 distritos, abrangendo o interior de São Paulo e um pedacinho do sul de Minas Gerais, é formada da seguinte forma:
Amparo – Mostardas – Monte Alegre do Sul – Serra Negra – Lindóia – Águas de Lindoia – Monte Sião (MG) – Bueno Brandão (MG) – Munhoz (MG) – Socorro – Pedra Bela – Pinhalzinho – Tuiuti – Morungaba – Joaquim Egídio – Souzas – Pedreira – Jaguariúna – Holambra – Martim Francisco – Itapira – Santo Antônio de Posse – Arcadas e retorna para Amparo.

Quando você começa a analisar as informações do site, percebe que eles têm o conceito de fornecer uma “credencial”, que custa R$ 50,00 a preços de fevereiro de 2025. A ideia da credencial é que você possa, ao longo do caminho, “colecionar” carimbos conforme vai passando em cada cidade. E ao final, se você conseguir todos os carimbos, pode pedir a emissão de um “Certificado de Conclusão” (veja aqui)

No entanto, preciso alertar que, embora eu tenha adquirido a credencial, já nas primeiras cidades passei em algum dos locais indicados (informados no site) e, onde passei, ninguém sabia sobre esses carimbos. Posso ter dado azar. Mas, o fato é que não consegui nenhum carimbo nas primeiras quatro localidades após Amparo: Mostardas, Monte Alegre do Sul, Serra Negra e Lindoia. Então, a partir dessa última, acabei optando por “desistir” de colecionar os carimbos, já que ir atrás deles me tomava um certo tempo e até então não havia conseguido um sequer. Mas, claro, isso não faz falta nenhuma e não tira o atrativo de percorrer o “Caminho pro Interior” —que foi uma experiência interessante e muito prazerosa.
Diferente do que vivenciei quando percorri o Caminho da Fé, não presenciei um único peregrino que eu conseguisse identificar como tal. Bem, pesa que fiz esse trajeto em dias úteis deste mês de fevereiro, em época de previsão de chuvas — algumas delas até bastante fortes pelo interior de São Paulo, como a que peguei no último dia, já quase chegando a Amparo. Então, pode ser que aos finais de semana haja um fluxo maior. Mas também pode ser uma indicação de que o “Caminho pro Interior” precise ser mais divulgado e conhecido e, com essa matéria, tento dar minha contribuição para isso.
Todo o caminho deveria ser sinalizado por indicações fixadas em postes ou árvores nas bifurcações (fotos a seguir), para ajudar você a saber para onde seguir. Mas, embora eu tenha encontrado centenas dessas indicações, havia falhas no percurso, o que, não tivesse eu tido o cuidado de baixar o mapa que foi montado pela AACPI no Google Maps (que tem bastante precisão) e o instalado no meu aparelho de GPS (que também poderia ser meu aplicativo no celular), não teria conseguido percorrer todo o trajeto com facilidade. Você mesmo pode fazer o download deste mapa.
Em todo o trajeto você vai se deparar com diversas sinalizações indicando o caminho, frases motivacionais, etc.
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‘O único ponto que está diferente do trajeto do Google Maps é uma subida bem íngreme e muito acidentada entre Lindoia e Águas de Lindoia, que não estava possível de ser vencida por um carro mesmo 4×4 (mas, talvez possível para motos e bicicletas). Porém, mesmo após essa subida, o restante do trajeto é adequado apenas para veículos 4×4, pelas dificuldades e condições atuais do caminho.
Já num trecho entre Pinhalzinho e Tuiuti precisei desviar de umas grandes erosões e retomei logo à frente. Mas, situações como essas são sempre possíveis de acontecer ao longo do tempo e quem se propuser a percorrer o trajeto precisa saber disso e ter algum conhecimento de mapas (o que é muito fácil com os aplicativos de hoje em dia) e tudo fica bastante fácil de resolver.
Mas, esses alertas que fiz foram em pontos pequenos e bem específicos. Assim, como em alguns trechos dentro de cidades, quando alguma rua ou avenida fica em contramão em relação ao que se pode caminhar, é preciso contornar e reencontrar o caminho mais adiante.
Em TODAS as cidades, na Igreja Matriz há uma bela placa (fotos a seguir) que indica que ela faz parte do “Caminho pro Interior”. Assim, como nos trajetos há placas motivacionais, placas em certo ponto do início de cada trecho que trazem informações sobre a distância a percorrer e altimetria (desníveis em subidas e descidas a serem enfrentados — importantes informações para quem vai percorrer a pé ou de bicicleta). Na maioria dos limites entre municípios, também há uma placa indicando esse ponto, quando a próxima cidade dá as boas-vindas e a anterior agradece sua passagem por lá.
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Em todo o roteiro você passa pelas praças onde está a Igreja Matriz de cada cidade, além de encontrar inúmeras capelinhas pelo trajeto (Fotos: autor)
Meus agradecimentos e parabéns às idealizadoras, parceiros e apoiadores do projeto, pois, são iniciativas assim que ajudam a fomentar o turismo nas diferentes regiões e por diferentes motivações. Mas, ao final, o que importa é que as pessoas queiram e possam ter cada vez mais motivos para “turistar” por aí, como o que fiz ao conhecer o “Caminho pro Interior”.
PS.: enviei algumas perguntas e comentários para uma das associadas da AACPI, com quem tratei da aquisição da credencial, mas não obtive resposta até o fechamento dessa matéria para esclarecer algum dos pontos que observei.
Conclusão
A Fiat Titano traz a marca italiana pertencente ao Grupo Stellantis para o segmento das picapes médias e, certamente, estão em busca de sua participação de mercado, o que se percebe com o posicionamento competitivo de preço, porém, com um produto que ainda precisa de refinamento no seu comportamento dinâmico, mesmo que a picape tenha se mostrado capaz, confiável e com bom desempenho e consumo, além de agradar em estilo e conteúdo.
Percorrer 2.038 km com a Titano e, especificamente os 537 km em situação off-road pelo “Caminho pro Interior”, demonstrou suas virtudes e pecados de uma forma interessante e abrangente, permitindo uma análise mais profunda. E, arriscaria dizer, que com uma recalibração das suspensões a picape média da Fiat poderia, facilmente, encantar ainda mais clientes e poder competir com aquelas que não estão atrás apenas de bom custo-benefício.
Espero em breve ter a oportunidade de voltar aqui e poder elogiar as “novas” suspensões da Fiat Titano, ainda mais que há rumores no mercado que ela será produzida em outra fábrica e pode adotar o novo motor diesel recém-chegado a certos produtos do grupo Stellantis, como a Ram Rampage e o Jeep Commander, que entrega 200 c de potência.
Abraços 4×4
LFC