Tão logo anunciada a vitória de João Dória Jr. (PSDB) já no primeiro turno da eleição para prefeito de São Paulo para o quadriênio 2017-2020, literalmente esmagando o atual alcaide e candidato à reeleição Fernando Haddad (PT), apressei-me em lhe dirigir várias sugestões relativas ao assunto trânsito da capital paulista. Sem acesso ao prefeito-eleito, encaminhei-as ao seu partido para que lhe fizesse chegar minha mensagem.
É importante salientar que embora seja assunto pertinente à cidade de São Paulo, a força de divulgação da internet deverá levar essas sugestões ao conhecimento de outros prefeitos-eleitos país afora, o que terá sua utilidade por serem problemas semelhantes que afligem todos nós.
Coincidentemente, enquanto eu aguardava o momento para escrever a respeito dessas sugestões, chega-me um e-mail do antigo leitor Luiz Colmenero comunicando-me ter feito o mesmo, porém por caminho diferente que ele dispõe, certamente bem mais eficaz do que ao que precisei recorrer. Vários pontos conferem com os meus.
Sugestões do leitor Luiz Colmenero
“Caro Prefeito João Dória Júnior,
Sua vitória representa um novo marco na história da administração pública no Brasil. Tenho certeza que será um excelente prefeito e torço para que você tenha uma grande carreira política! Não apenas a cidade de São Paulo, mas o Brasil todo precisa acelerar!
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Buscando uma melhor eficiência no trânsito de São Paulo, gostaria de fazer algumas sugestões em cinco pontos que considero estratégicos para melhorar o trânsito de São Paulo em fluidez e segurança:
1) NOVA PADRONIZAÇÃO DE VELOCIDADES MÁXIMAS, UTILIZANDO COMO CRITÉRIO O NÚMERO DE FAIXAS DAS VIAS
– 5 novos limites, 2 para ruas, 2 para avenidas e 1 para avenidas expressas. É importante ressaltar que para RUAS o limite de 50 km/h será mantido. A ideia principal é ajustar as velocidades das AVENIDAS, não deixando a segurança de lado.
Avenidas
– Até 3 faixas: 60 km/h
– 3 faixas ou mais: 70 km/h
– Marginais expressas e avenidas que se ligam a estradas: 90 km/h
Ruas
– 1 faixa: 40 km/h
– 2 faixas ou mais: 50 km/h
– PONTOS CRÍTICOS PARA PEDESTRES como escolas, faculdades, parques hospitais etc: 40 km/h e preferencialmente fiscalizado por lombada eletrônica para garantir a segurança dos pedestres e educar os motoristas.
2) ALTERAÇÕES NA FISCALIZAÇÃO
– Gradativa substituição de radares por lombadas eletrônicas. Menor número e maior qualidade na escolha dos pontos de fiscalização, optando por colocar apenas em locais de comprovado perigo.
– Acabar com os radares-pegadinhas, situados imediatamente após mudanças de velocidade. Não instalar radares a menos de 400 m de uma alteração de velocidade.
– Colocar a Guarda Civil Metropolitana fiscalizando pontos em que geralmente ocorrem assaltos e também rodando pelas vias, aumentando a segurança, abordando veículos com comportamento suspeito (ex: motorista bêbado) e reprimindo assaltos. As pessoas dirigem de forma muito mais defensiva ao ver uma viatura da Polícia.
3) GARANTIR MAIS SEGURANÇA AO RODAR
– Um ponto crítico a ser melhorado é garantir uma largura mínima de segurança nas faixas de rolamento, especialmente em vias como o corredor Norte-Sul que apresenta em alguns pontos, como na ponte sobre a avenida dos Bandeirantes, faixas com largura inferior à largura de um veículo médio, aumentando o risco de acidentes.
– Nesses locais a sugestão é eliminar uma faixa de rolamento, aumentando a largura das demais faixas, permitindo que o fluxo consiga fluir normalmente na velocidade máxima da via, pois nestes pontos muito estreitos criam-se gargalos, que além de prejudicarem a fluidez aumentam o risco de acidentes.
4) QUALIDADE DAS VIAS
– Gradativamente arrumar o estado geral do asfalto, pois buracos são perigosos especialmente para motociclistas e ciclistas, os que mais morrem no trânsito.
– Redução no número de lombadas e valetas, que prejudicam a fluidez e aumentam o consumo de combustíveis e a emissão de poluentes. Manter apenas quando realmente necessário, ajustando quando estiverem com altura excessiva.
– Melhorar a sinalização das vias, pois uma sinalização deficiente pode levar a acidentes.
5) OPORTUNIDADES
– Parceria com o Waze para mapear os buracos mais marcados pelas pessoas durante o dia e durante a madrugada execução de serviços de reparo, sem necessidade de ligar ou enviar e-mail para a prefeitura.
– A parceria com o Waze seria uma grande oportunidade para acelerar e modernizar as operações tapa-buraco, ressaltando que a adoção de tecnologias inteligentes para aumentar eficiência será uma marca da nova administração.
– Liberar novamente o tráfego de carros no Elevado sobre a Praça 14 Bis. Criou-se um gargalo totalmente desnecessário, obrigando os carros a passarem por dois semáforos, sendo que em existe fiscalização de farol vermelho, algo especialmente perigoso durante a madrugada. Parece que a prefeitura quis criar um novo local para assaltos.
– Busca constante por gargalos e problemas a serem melhorados. Gostaria que em alguns anos São Paulo se tornasse um local extremamente seguro e prazeroso de se dirigir, esse é um sonho que eu tenho!
Um grande abraço e que você faça uma excelente administração! No que eu puder ajudar, conte comigo!
(a) Luiz Colmenero”
Minhas sugestões
Caro João Dória Jr.,
Como munícipe e como brasileiro parabenizo-o pela retumbante vitória, coisa de Bem sobre o Mal até. Sei que lhe esperam dias difíceis a partir de janeiro, mas tenho certeza de que você tem competência e bom senso de sobra para ter pleno sucesso nessa sua nova missão.
Quero lhe sugerir: tenha como marca registrada de sua administração oposição quase total ao que Fernando Haddad fez. É isso que a maioria dos paulistanos quis dizer ao elegê-lo prefeito. Entre os pontos dessa oposição, temos:
1. Acabe com a vergonha paulistana chamada rodízio. Não espere que complete 20 anos em setembro do ano que vem, desde quando Celso Pitta o criou e a câmara o aprovou. Note que o rodízio em si não é lei, mas apenas autorização para o Executivo o implementar. O rodízio não faz mais sentido hoje. Se você eliminá-lo, faça a jogada política de deixá-lo voluntário, dentro da mesma regra de horários e dias segundo o final de placa.
2. Restabeleça as velocidades regulamentadas pré-Haddad, todas – sem exceção – plenamente adequadas e seguras. As reduções foram feitas exclusivamente para aumentar a arrecadação com multas, ninguém tem dúvida disso.
3. Eu já soube que você pretende manter a fiscalização de velocidade eletrônica. Ótimo, é uma maneira eficaz de reprimir excessos, mas desde que as velocidades regulamentadas sejam realistas e razoáveis.
4. Determine à CET que acabe com todas as armadilhas criadas com o fim de arrecadar com multas, como a famosa e recordista armadilha de São Paulo, a do acesso à Ponte das Bandeiras para quem trafega no sentido oeste.

5. Já soube também que você vai rever a questão das ciclofaixas, grande parte inútil e incômoda; ótimo. Ciclovias sim, devem ser construídas mais.
6. Ordene a CET que reveja os pontos de entrada na faixas exclusivas de ônibus para o motorista que deseja fazer uma conversão à direita ou à esquerda. Como estão hoje são completamente erradas: pode-se entrar na faixa para a manobra somente defronte da rua que se quer tomar, contrariando o que determina o Código de Trânsito Brasileiro em seu Art. 197, além de ser extremamente arriscado. Cidadãos que entram na faixa corretamente são autuados por infração gravíssima, com 7 pontos na CNH e multa de R$ 191,54 (passará a R$ 293,47 a partir de novembro).
7. A pouca largura de certas faixas de rolamento é vergonhosa. Uma picape média não cabe nelas e o carros compactos ficam no limite. As faixas têm largura determinada por resolução do Contran e pelo Manual de Sinalização Horizontal emitido pelo Denatran. Cabe salientar que além do incontestável prejuízo à fluidez do trânsito, a pouca largura resultante do “corredor” de motos é causa conhecida de acidentes com motociclistas. E outra consequência funesta da largura irregular das faixas de rolamento é veículos de serviço público de urgência como ambulâncias, polícia e bombeiros não conseguirem abrir caminho entre as filas de carros.

8. A CET precisa verificar se as lombadas foram colocadas pelo município ou o foram por moradores, por conta própria, nesse caso removendo-as imediatamente, e se aquelas regulamentares em localização obedecem às dimensões regulamentares (Contran); dificilmente estão conformes.
9. Para encerrar, o fechamento da av. Paulista aos domingos, que segundo eu soube você pretende manter. Não existe nenhuma necessidade disso, a cidade tem parques magníficos com o Ibirapuera, o Villa-Lobos e o da Aclimação, além do Minhocão (esse não atrapalha fechar aos sábados). A av. Paulista é o cartão postal da cidade, é uma importante via de ligação leste-oeste e é densamente povoada, além de ter numerosos hospitais, hotéis e shoppings. O fechamento da Paulista foi medida esquerdo-populesca do petista, nada além disso.
Era isso que queria lhe dizer.
Parabéns mais uma vez pela sua magnífica vitória e do PSDB, ensejando-lhe o maior sucesso à frente da prefeitura da cidade.
(a) Bob Sharp
(Atualização feita às 14h20)
Depois de publicada esta matéria chegaram vários comentários fornecendo link para matéria na Folha de S. Paulo de Hoje a respeito de velocidade, com as opiniões de um tal de Leão Serva. O editor de Tecnologia do AE, André Antônio Dantas, respondeu a um dos leitores, o Lorenzo Frigério, e essa magnífica resposta segue abaixo:
“Já topei de frente com esse Leão Serva antes na questão do trânsito induzido, lembra? Escrevi o artigo, abri as portas para a discussão franca com ele e estou esperando a resposta dele até hoje.
Bom, não dá para esperar nada diferente do coautor de ‘Como Viver em SP sem Carro’. Ele tem interesse nessas teses. Esse autor parece-se com muita gente com relação ao aquecimento global.
97% dos cientistas dizem que ele existe e é causado pelo homem e apenas 1% negam o fato. Quem é que as pessoas que se sentem incomodadas pelo assunto escolhem para embasar a sua opinião? Pois é. Essas pessoas deixam 97% dos especialistas de lado e só dá ouvidos ao 1%… É a conforto da verdade conveniente. Um especialista falou, e quem é você para discutir? Só que para aquele especialista dizendo “não” tem 97 outros dizendo que “sim” que foram sumariamente varridos para debaixo do tapete na discussão.
Só que não é assim que se faz boa ciência. Venho estudando essa questão da redução da velocidade já faz um tempo e da noite para o dia esse russo Boris Kerner virou a cereja do bolo para os prefeitos, porque ele diz uma verdade conveniente.
Esse Boris Kerner criou uma teoria onde ele identifica uma fase intermediária entre o fluxo livre e o fluxo congestionado, que seria um fluxo que flui, mas altamente compacto. A tese desse Boris contradiz tanto o pessoal da velha engenharia de tráfego, baseada em estatísticas, como os novos teóricos baseados em estudos a partir de simulações de computador e uso da Teoria do Caos.
Essa teoria tem pelo menos dois graves problemas:
1 – Ela tem viés de interpretação. Se algumas relações de causa e efeito forem invertidas, as conclusões dele podem estar completamente erradas. Além disso ele estudou o fluxo como se estabelece naturalmente, mas o fluxo é naturalmente caótico e em sistemas caóticos nem sempre inverter a ordem das coisas, induzindo o fluxo a se mover na fase compacta tenha os resultados esperados, não é uma via de mão dupla;
2 – A fase intermediária que ele identificou é transitória, ainda mais quando levamos em conta a não sincronicidade de ações dos motoristas entre si, que é base da tese dele. É uma região de parâmetros onde o sistema todo pode escorregar para o congestionamento franco. Assim, tanto com Boris estando certo ou errado na sua tese, forçar o trânsito a andar na condição de fluxo lento e compacto quando ele poderia ser livre é trazer todo o sistema para mais próximo da condição crítica do congestionamento franco. Pode-se facilmente obter o contrário do que a tese propõe. Só que voltamos na condição da pessoa que quer negar o aquecimento global e menciona um cientista que nega o fato através de toda uma tecnicidade difícil de um não especialista interpretar, e que por isso impõe toda sua autoridade de “especialista”, criando uma “verdade conveniente”.
Para o Leão Serva, esse russo é o santo no alto do altar porque criou uma teoria que embasa o que ele quer dizer. Mas ele em momento algum busca outros autores e tenta atingir um senso crítico sobre o assunto. Ele simplesmente elege a tese do russo como verdade absoluta e varre todo o resto para debaixo do tapete da discussão.Não caia nessa armadilha. Ciência é ciência. A opinião da maioria dos especialistas sempre vence. Há sempre espaço para alguém negar uma teoria vigente, mas vai ter de mostrar provas do que está dizendo e convencer a maioria da nova verdade.
Mas esse não parece ser bem o caso desse russo.”
BS