Estamos vivendo uma nova fase de tristeza. O jornalista Marco Antônio Macchioni Lellis faleceu no último dia 11 de maio, 13 dias depois de completar 81 anos de intensa vida de trabalho com criatividade, vibração e muita eficiência, que contribuíram para fazer muitos amigos e ser extremamente respeitado.
Quando digo que o Marcão era irreparável é porque ele era único. Tinha uma personalidade forte e mesclava ousadia e coragem, com extrema bondade e senso de justiça. Combinava o profissionalismo e a ética, com um senso de oportunidade e tino comercial. Com ele não tinha amigo não apoiado e nem cliente não atendido ou com retorno abaixo do esperado. Ele sempre dava um jeito.
Homem de muitas virtudes, foi um dos pioneiros a criar uma assessoria de imprensa do setor automobilístico do Brasil, sendo superado por apenas um dia por Ênio Campoi, da Mecânica de Comunicação, outro amigo muito importante.
Corajoso e ousado, depois de ganhar experiência em jornalismo automobilístico, deixou a Gazeta Esportiva, onde iniciou sua carreira profissional e fundou sua empresa, a SM Promoções e Empreendimentos, na qual tive a satisfação de participar e ampliou suas atividades com a conquista de vários clientes como a Creditum, com o piloto Ingo Hoffmann, Freios Varga, Sabó, Nakata e Dana, entre outros.
Como pioneiro, foi também o primeiro assessor de imprensa da Fórmula 1 durante muitos anos, até 1991, e o único da Equipe Hollywood, que se constituiu na melhor equipe brasileira de automobilismo, acompanhando o trabalho de preparação do automóvel Ford Maverick realizado pelo argentino Oreste Berta que, na ocasião foi considerado o carro mais veloz e mais charmoso das pistas brasileiras.
A equipe Hollywood, com patrocínio da Cia. De Cigarros Souza Cruz, teve grande crescimento e colecionou vitórias com o acréscimo de dois Porsches de competição (910 e 908/2) e um Lola T210-Ford que encantaram os fãs das competições automobilísticas, sob a direção de Anísio Campos e, entre os pilotos, Luiz Pereira Bueno, José Renato Andrade “Tite” Catapani. Chico Lameirão e outros importantes astros das pistas.
Como diretor de imprensa da Fórmula 1, Lellis teve como parceiros dois amigos jornalistas, Mauro Forjaz e Clóvis Maia de Mendonça Jr., e juntos foram responsáveis pelo credenciamento do GP Brasil, um trabalho enlouquecedor.
Ele não gostava de viajar de avião. Sempre que podia ia de carro. Em meados dos anos 1980, com o sucesso alcançado no GP do Brasil de Fórmula 1, Tamas Rohony, promotor da prova, convidou o Lellis para ser o diretor de imprensa dos GPs da Hungria e Portugal, mas Lellis declinou porque precisaria viajar de avião e não se sentia confortável.
Pelo prestígio que acumulou em seu trabalho, depois da equipe Hollywood, Marco Antônio Lellis foi contratado pela Fiat, como assessor de Imprensa em São Paulo para a atividade esportiva e, alguns anos depois, passou a trabalhar na Assessoria de Imprensa da General Motors, onde revolucionou o relacionamento com os jornalistas de todo o Brasil e com os de outros países do continente sul-americano. Também foi assessor de imprensa da Opala Stock Car nos anos 1980.
Além da seriedade que impunha em seu trabalho, era ousado, corajoso, divertido e apaixonado. A coragem, sempre demonstrou de vencer os obstáculos da vida. Nunca temeu visitar uma empresa para apresentar os seus serviços e expor as vantagens de seu trabalho e, por isso, sempre conquistou importantes empresas como clientes.
A ousadia conheci em duas oportunidades. Uma vez, na avenida da Consolação, ao surpreender-se com dois assaltantes tentando roubar uma senhora, investiu sobre eles com socos e pontapés e os fez correr e só desistiu da perseguição porque um dos sapatos saiu de seu pé. Em outra oportunidade demonstrou o seu espírito passional e incomodou-se com um homem que julgou estar assediando sua esposa e, um dia, ao encontrá-lo na rua, o fez correr depois de desferir alguns golpes.
Outra virtude de Marco Antônio era fazer amigos, aos quais sempre demonstrou seu coração aberto. Companheiro fiel e parceiro, com ele, pude desfrutar de momentos divertidos e emocionantes que, com a minha ida para a Ford, em 1974, foram reduzidos sensivelmente.
Um dia apareceu em minha casa e ao entrar segurando um robusto pacote, exclamou: “Hoje vim almoçar com vocês e comemorar mais um ano de casamento. Vamos conversar um pouco enquanto tomamos uma batida de coco e amendoim e mantemos aquecidas essas coxinhas, empadinhas, pastéis e outras guloseimas.”
Depois que deixei a cobertura das corridas e ingressei na Ford, eu não ia mais tanto aos autódromos, só nas provas que envolviam a Ford. Mesmo assim, nas tardes de sábado ou domingo, o Lellis sempre passava em casa na volta de Interlagos para um papo com o compadre, como ele me chamava.
Por esse nível de amizade e relacionamento intenso, tornou-se padrinho de Crisma do meu filho, José Carlos, que, quando decidiu deixar o curso de engenharia e ingressar na comunicação, procurou o Marcão e ele respondeu prontamente “Estou esperando a resposta de um novo e grande cliente. Se der certo, te ligo para começar aqui”.
Menos de um mês depois, Lellis ligou e contratou o José Carlos, que estava iniciando a faculdade. E logo de cara deixou claro como as coisas seriam. “Se quer aprender e começar nessa área, não adianta apenas aprender a escrever. Precisa conhecer cada atividade que envolve a assessoria de imprensa. Então vai começar aprendendo a manusear o mimeógrafo, etiquetar os envelopes e postar tudo nos Correios”. Uma formação completa.
Além do trabalho e dos amigos, suas paixões eram a primeira mulher, Maria Antônia, que tratava carinhosamente de Totonha, e sus filhas Renata e Camila. Quando cometia alguma indelicadeza com ela, comentava “Coitadinha da Totonha. Preciso me desculpar com ela”. E levava um presente para ajudar na reconciliação.
LCS
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